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          R E V I S T A D A E S P M –
        
        
          SETEMBRO
        
        
          /
        
        
          OUTUBRO
        
        
          DE
        
        
          2006
        
        
          Algumas hipóteses sobre
        
        
          a retórica do consumo
        
        
          que vemos uma retórica prestes a
        
        
          flertar com noções aparentemente
        
        
          desarmônicas do desejo e que
        
        
          pode indicar o advento de novos
        
        
          processos de mercantilização da
        
        
          negatividade da auto-destruição e
        
        
          da revolta contra as imagens ideais
        
        
          do corpo.
        
        
          Talvez  valha, neste caso, o dito
        
        
          premonitório de Debord: “À aceita-
        
        
          ção dócil do
        
        
          queexistepode
        
        
          juntar-se à re-
        
        
          voltapuramente
        
        
          espetacular:isso
        
        
          mostra que a
        
        
          própria insatis-
        
        
          fação tornou-se
        
        
          mercadoria, a
        
        
          partirdomomentoemqueaabundân-
        
        
          cia econômica foi capaz de estender
        
        
          sua produção até o tratamento desta
        
        
          matéria-prima”
        
        
          8
        
        
          . Ou seja, nada im-
        
        
          pedequea frustraçãocomouniverso
        
        
          fetichizadoda forma-mercadoriaede
        
        
          suas imagens ideaispossa se transfor-
        
        
          mar, também, emumamercadoria.
        
        
          Afirmações feitas por entrevistados
        
        
          como: “Aquilo é o mundo real”,
        
        
          “Não gosto de ser tratado como
        
        
          alguém absolutamente à parte dos
        
        
          problemas domundo” e “Benetton
        
        
          foi importantepor trazer problemas
        
        
          mundiaisparaohoráriocomercial”,
        
        
          indicamqueas rupturas formaisede
        
        
          conteúdo,própriasàscampanhasda
        
        
          Benetton,permitiramamercantiliza-
        
        
          çãopublicitáriada frustraçãocomo
        
        
          universo publicitário.
        
        
          Podemos mesmo propor como
        
        
          hipótese que, a partir domomento
        
        
          em que a saturação do público
        
        
          consumidorem relaçãoaosartifícios
        
        
          corriqueiros da retóricapublicitária
        
        
          motivou uma certa invalidação
        
        
          de representações sociais normal-
        
        
          mente vinculadas à positividade
        
        
          douniversodasmercadorias, então
        
        
          a publicidade viu-se obrigada a,
        
        
          digamos, “flertar com o negativo”.
        
        
          A publicidade, enquanto estrutura
        
        
          Na verdade, esta é a base
        
        
          do posicionamento das
        
        
          campanhasmundiais da
        
        
          Benetton, só para ficar no
        
        
          exemplomais visível. Ao
        
        
          questionar consumidores
        
        
          damarca a respeito das es-
        
        
          tratégias de comunicação
        
        
          daBenetton, percebemos
        
        
          os resultados de uma
        
        
          lógica na qual a frustração
        
        
          com o universo publicitário
        
        
          vira amola do próprio dis-
        
        
          curso publicitário.
        
        
          F