Valores_Marco_2010 - page 109

março
/
abril
de
2010 – R E V I S T A D A E S P M
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Aoseremincorporadosaovocabulárioempresarial,
“valores” como “economia” adquirem caráter de
estrutura e estão “amarrados” nas estratégias de
crescimento e resultado, podem servir demotivo
veladoparademissõescasonãosejamrespeitados.
Motivação:
ou vai ou racha
Amultiplicidadedeeufemismos,como“associa-
dos”no lugarde“empregados”, “lideranças”no
lugarde“chefes”, “resultado”emvezde“lucro”,
“organização” em vez de “empresa” poderiam,
também, demonstrar as intenções, o valor e o
significadodessenovo idiomacorporativo.Além
disso, entraram para o vernáculo empresarial,
nos últimos dez anos, expressões como “clima
interno”, “alinhamentodevalores”, “excelência”,
“missão”, “visão”, “administração do tempo”,
“qualidadedevida”,“talentos”,entreoutras.Ter-
mosgenéricoseabstratoscomo“capitalhumano”,
“balanço social”podem ter comoefeitosdiretos
“a aboliçãodas diferenças e das especificidades
de cada contexto, e de fazer crer que todos eles
obedecemaosmesmosprincípiosgeraiseàsmes-
mas leis” (CHANLATeBÉDARD, 2007,p. 142).
Os funcionáriospodemestar sendo considerados
sujeitoscompoucacapacidadedeescolher,decidire
atémesmodepensar.Osgerentesrecebemprontas,
diariamente,novascompetências, identidadesque
jávêmcomadescriçãodasatitudes ideaiseaceitas
paraque se tornemautênticospraticantesdosva-
loresdaempresa.ConformeCuche:
Pode-seafirmarque,ao“programar”osurgimento
de novas identidades, estimuladas e constituídas
por emulação interna, da condutamotivacional,
asempresaspoderiamestardeixandodecativaro
indivíduoque realmentedesejam, ou seja, aquele
queseconstituiatravésdoqueocorrenassuas in-
teraçõese trocas recorrentesdentrodoambiente
de trabalho. Estariam “sem aproveitar” traços
fundamentaisque constituiriamo sujeito, como
a sua necessidade de ajudar e de ser ajudado,
além da sua capacidade de cooperar de forma
voluntáriaeautêntica.
Vendo-ocomoalguémque,senãoforestimulado
emocionalmente,nãoiráaderiraoqueestásendo
determinadonomomento, as empresas têm-se
utilizadodessas“ferramentasdesedução”como
formade fazer comqueesse“consumidor inter-
no”sesensibilize.
Discursos naprática:
ummosaicocom
distâncias abismais
Na recepçãodeumadas empresas pesquisadas
háapenasuma funcionáriaparaatender aosvi-
sitantes, receber dezenasde chamadas externas
dizendosempreonomedaempresa,oseunomee
umasaudação,fazerligaçõessolicitadas,recebero
malote,conferirasaídademateriale,conformeo
manualdeatendimentodaempresa,“atenderaté
o3
o
toque,comvozanimadaealegre,dizendoum
cordial ‘bomdia’.-Nãoesqueça,vocêéo[nome
daempresa]-ao telefone.”
UMA INFORMANTEDOSETORDE
RECURSOSHUMANOSCOMENTA:
}
Temos muita rotatividade nessa função,
pois o estresse é grande, não há como ir ao
banheiro, pois a substituição quem fazia era
oporteiro,masagoraeles cortaramporquea
portaria é terceirizada e não dá para cobrir a
funçãode recepcionista, entende?
~
(A
nalistade
R
ecursos
H
umanos
).
}
Paradefinir a identidadedeumgrupo, o im-
portantenãoé inventariar seus traços culturais
distintivos, mas localizar aqueles que são utili-
zados pelosmembros do grupo para afirmar e
manterasuadistinçãocultural.Uma identidade
diferenciada resultaunicamentedas interações
entreosgruposeosprocedimentosdediferen-
ciaçãoqueelesutilizamemsuas relações.
~
(CUCHE, 2002,
p
. 182)
(
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