Revista ESPM Mai-Jun 2012 - NEM BABÁ, NEM BIG BROTHER a eterna luta do indivíduo contra o Estado - page 105

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Nesse contexto, as empresas possuem um sentido de
pertencer a um grupo, com a existência de processos de
seleção e as relações de cooperação duradouras e, em
grande parte, mantidas por vínculos sociais e não contra-
tuais, o que não significa que esses dois aspectos sejam
excludentes. Para entender o processo de governança,
é necessário considerar a dimensão da estrutura desse
novo tipo de configuração organizacional e a dimensão
da ação coletiva. No caso das redes de empresas, a gover-
nança e os seus mecanismos são condições
sine qua non
para sua existência, especialmente porque a existência
de uma rede acena com relações de cooperação de longo
prazo. Uma afirmação básica da teoria do custo de tran-
sação é que mercados e hierarquias são instrumentos
alternativos para completar um conjunto de transações
e, como tais, são frequentemente chamados “mecanismos
de governança”.
Aglobalizaçãodosmercados temtrazidooportunidades
e ameaças para as empresas, independentemente de seus
portes. Assimsendo, a competição empresarial no âmbito
global ampliou-sedemaneiraexpressivanosúltimosanos.
Por muito tempo, a competição dominou o comportamen-
to das firmas e não só representou o combustível para a
prática da gestão estratégica, como também estimulou a
maioria dos ensaios acadêmicos no campo da estratégia.
Competirsignificavalutarcontraadversáriosquedeveriam
ser derrotados ou eliminados.
Nohriaapontou três razõesparaoaumentodo interesse
no tema “redes de empresas”: a) a emergência da “nova
competição”, como está ocorrendo nos distritos indus-
triais italianos e no Vale do Silício. Se o “velho” modelo de
organização era a grande firma hierárquica, o modelo da
organização considerada característica da “nova competi-
ção é a rede de inter-relações laterais intra e interfirmas; b)
o surgimento das tecnologias de informação e comunica-
ção (TICs) tem tornado possível uma maior capacidade de
inter-relações entre firmas dispersas; e c) a consolidação
da análise de redes como uma disciplina acadêmica, não
somente restritaaalgunsgruposdesociólogos,masexpan-
dindo para uma ampla interdisciplinaridade dos estudos
organizacionais.
Sob a égide do olhar empírico, destaca-se a constituição
do ProgramaRedes deCooperação da antiga Secretaria do
Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais (Sedai),
hoje abrigadona Secretaria daEconomia Solidária eApoio
à Micro e Pequena Empresa (Sesampe). O programa vem
implementando com certo grau de sucesso a cultura das
redes de micro, pequenas e médias empresas. No final do
primeiro ano do programa, sete redes foram formadas.
Passados cinco anos, esse número subiu para 120 redes
de cooperação em todo o Estado do Rio Grande do Sul. Ao
final de 2007,mais de 130 redes haviamsido lançadas con-
tendoumnúmerode aproximadamente trêsmil empresas
trabalhando sob a égide da cooperação.
Ainda, o Programa do Estado do Rio Grande do Sul
Redes de Cooperação, através da Sedai (2010), aponta que
no somatório de atividades, desde seu início no ano 2000,
o programa constituiu e apoiou mais de 220 redes de co-
operação, com um total de 4,7 mil empresas integradas,
gerandoe/oumantendomaisde61,1mil postosde trabalho
diretos e alcançando em conjunto um faturamento anual
superior a R$ 5 bilhões.
À luz da teoria dos custos de transação, preconizada
pela visão de Thorelli, permite considerar que as relações
empresariais,principalmenteosmovimentosdeintegração
vertical,nãosãoosúnicosmodeloscapazesdegerarresulta-
dos expressivos.Mas tambéma formahíbrida seapresenta
como um mecanismo capaz de congregar os interesses
coletivos, pelas relações cooperativas, aqui comprovadas
com os resultados do programa Redes de Cooperação.
Por fim, os três preceitos deNohria se justificamcomos
preceitosdeWilliamson, noestabelecimentodos vínculos
de reciprocidadeentreosagentes integrantes, umavezque
os desafios e adversidades entre essas empresas são os
mesmos,oquefavoreceacapacidadedeinter-relaçõesentre
elas, fortemente dissipado em debates interdisciplinares,
não restritos aos “grupos de sociólogos”. Tal abordagem
evidencia o ganho produtivo e mercadológico dos agentes
de mercado, favorecendo frequentemente as políticas de
incentivos às inovações e de defesa da concorrência.
Jonas Cardona Venturini e
Marcello Noetzold Mafaldo
Professores da ESPM-Sul
Ao final de 2007, mais de 130 redes haviam
sido lançadas contendo umnúmero de
aproximadamente trêsmil empresas
trabalhando sob a égide da cooperação
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