Marco_2009 - page 71

FernandoHenrique
Cardoso
março
/
abril
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
71
e
mprimeiro lugar queriaex-
pressar aminhaalegriaem
estar aqui, porqueesse tea-
tro tem, paramim, uma co-
notaçãomuitoespecial.Numaépoca
emqueamaioriadevocês talveznem
tivesse nascido, foi nesse teatro que
ocorreramalgumasdasmanifestações
maisexpressivasderepúdioaoregime
autoritário.Nãovoumeesquecernun-
cadequevim,àépoca,paraparticipar
de umamesa-redonda. Era professor
expelidodaUSPpelo regimemilitar,
e ia participar de um debate. De re-
pente, as luzes apagaram. Naquela
época,quandoas luzesseapagavam,
ninguém imaginavaque fossedefeito
daLightouapagão.Não,eraapolícia
enóstodostínhamosumasensaçãode
pavordoquepoderiaacontecer.Não
aconteceunada.Talvez tenhahavido
umcurto-circuito.Esse teatro teveum
significadomuito importante–simbó-
lico–de resistênciademocrática.
Se me permitem, contarei outro pe-
quenoepisódio.Anosdepois,nosanos
80, fui àUnião Soviética e encontrei
uma moça, que havia sido minha
coleganaUniversidadedeSãoPaulo
– LeninaPomerantz, queme convi-
dou para uma reunião acadêmica da Academia de Ciências.
Já era senador, mas fui como sociólogo. Era para os lados dos
subúrbios deMoscou, numa velha fábrica de lâmpadas elétri-
cas, que tinha um teatro àmoda dos teatros antigos – parecia
um teatro que havia em São Paulo, chamado Teatro Santana.
Quando cheguei, havia, nas paredes, cartazes com referência
aos
gulags
– os campos de concentração. Entramos na sala, e,
de repente, abre-se uma cortina com aquela famosa fotografia
dos hierarcas russos diante do mausoléu do Lênin na Praça
Vermelha. Em cimadizia: “Eis os inimigos dopovo”. Levei um
susto, epensei: “Vamos emboradaqui! Já caí numa frianoRio
de Janeiro e agora vou cair, emMoscou, numa coisa dessas?”
Foi uma luta. No fundo, esses momentos têm similitudes. Es-
távamos no começo do Governo do Gorbatchov, e tratava-se
deconstruir umMonumentoaosDesaparecidos. Isso tinhaum
significado revolucionário.
Vocês–que trabalhamcomquestõesdecomunicação– sabem
que, àsvezes, éassim:umpequenogesto reproduzumefeitode
curto-circuito.Aqui foi lugaremquehouvemuitoscurto-circui-
tos. Nobom, e nomau sentido. Isso foi a títulode introdução,
paradizer queessesmomentos têmmuitos significadosdensos
de simbolismo.
Masnãovou fugirdasquestõesqueme forampropostas, a respei-
to do que fazer – sobretudo osmais jovens – diante do que está
acontecendo nomundo; se é que é possível alguém sumarizar o
queestáacontecendonomundoe imaginarque“jovem”sejauma
coisa unificada, homogênea. Há muitos tipos de jovens, muitos
segmentos, e, nofinal, as soluções, cadaum encontra individual-
mente, embora referindo-se à vivência coletiva. E também, uma
Divulgação
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O temamais próximo da juventude
é o tema domeio ambiente.
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Naquelaépoca, quandoas luzes se
apagavam, ninguém imaginavaque
fossedefeitodaLight ouapagão.Não,
eraapolíciaenós todos tínhamos
uma sensaçãodepavordoque
poderiaacontecer.
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