Marco_2005 - page 8

Marcus Vinicius
Pratini deMoraes
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M A R Ç O
/
A B R I L
D E
2 0 0 5 – R E V I S TA DA E SPM
vidade, devemos considerar dois
segmentos:oconceito icardiano tra-
dicionaldevantagenscomparativas,
onde sem dúvida, oBrasil tem van-
tagens em relação à carne bovina.
Mas isso não basta, nomundomo-
derno, que é o das vantagens com-
petitivas.Noagronegóciobrasileiro,
a transformação das vantagens
comparativasdoagronegóciobrasi-
leiro em vantagens competitivas é a
grande tarefa. No caso da carne,
conseguimos vantagens competiti-
vas, apesar de problemas de logís-
tica, como o transporte, transfor-
mandoessacaracterísticadoboi de
capim – natural, orgânico, carne
maismagra–numavantagemcom-
petitivanaprateleiradoconsumidor.
GRACIOSO
– Em outras palavras,
trata-se de aplicar os princípios do
marketingàexportação.Essa receita,
na sua opinião, pode servir para o
agribusiness
de modo geral e para
outros produtos que o Brasil queira
exportar?
PRATINI
–O agronegócio, hoje, é
responsável por mais de 40% das
exportações epor 26a27%doem-
prego neste país. Foi o único res-
ponsável pelo salto da balança co-
mercial. Portanto, assumiu uma
posição estratégica no cenário
econômico, inclusive pelo efeito
multiplicador que tem em toda a
indústria e serviços ligados à
economiaagrícola.Aaplicaçãodes-
sas idéias–quedesenvolvemospara
a carne – ébásica e achoque todos
os setores devem acompanhar.Mas
temos, antes, de discutir a questão
domarketing:convencer-nosdeque
precisamos exportar sempre produ-
tos commaior valor agregado. Por
isso, defendoaexportaçãodecarne
como proteína animal – proteína
animaldeboi, frango,porco.Vamos
transformaromaiorvolumepossível
depastos, soro, farelode soja,milho
em carne bovina, carne de frango,
deporco–proteínaanimal quevale
vinte, trinta vezes mais do que a
proteína vegetal utilizada na sua
produção. O desafio do Brasil, no
agronegócio, é aumentar o valor
agregadodasuaexportação.Vamos,
sempre, exportar algumasmatérias-
primas,masnossoobjetivodeve ser
–comonocasodacarne–exportar
produtocomvaloragregado,porque
issogeramais renda,maisemprego,
mais dólares.Uma toneladade soja
valeUS$250; uma tonelada de filé
mignon pode chegar aUS$ 8mil.
GRACIOSO
– Que preço médio
conseguimos, por tonelada?
PRATINI
–Comexceçãodealguns
mercados, ela está sujeita, hoje, a
uma taxaçãomuitopesada.Opreço
médiodevendaestáumpoucoaci-
ma deUS$ 2.200 por tonelada, in-
cluindo traseiro/dianteiro – é a
média, porque o traseiro vale mais
que o dianteiro. Mas como temos
grandesmercadosnoOrienteMédio
quecompramsódianteiro,ovolume
deexportaçãoégrande.Eu,pessoal-
mente, souumgrandeentusiastada
exportação para esses mercados,
porque a gente exporta o dianteiro
e o churrasco fica aqui...
GRACIOSO
–Nessaópticade va-
lor agregado, oministroRicupero –
nosso compatriota que está na
OCDE – disse, emum artigo, que o
Brasil deveria olhar além das
com-
modities
e tentar entrar nos seg-
mentosmaisdinâmicosdocomércio
internacional, em produtos de alta
tecnologia, serviços elaborados.
Como vê essa observação?
PRATINI
–Pelas funçõesqueexer-
ci, nos últimos anos, e pelas ati-
vidades da ABIEC, o meu foco é o
agronegócio. Mas trabalhei nesse
estudo, comos dados daUNCTAD,
e chamava de produtos dinâmicos.
Apresentei um estudo, em 1997,
mostrando que o Brasil estava fora
dos produtos mais dinâmicos no
crescimento do comércio interna-
cional, e o Ricupero usou esses
dados – que levantei, com base em
estatísticas fornecidaspelaUNCTAD
–paraelaborar alguns artigos eessa
tese, que ele defendeu em várias
conferências. Se – de um lado – no
agronegócio, o Brasil adotou uma
estratégia queme parece adequada
e tem trazido bons resultados, na
área industrial temosaindaumgran-
de espaço apercorrer. Pecamos por
várias deficiências. A primeira é a
nossa cultura – o Brasil tem cultura
depaíscolonial. Sempre foiumpaís
comprado; nunca soube vender.
Durante quase 500 anos, os estran-
geiros – basicamente portugueses –
“A GENTE EXPORTA O DIANTEIRO
E O CHURRASCO FICAAQUI...”
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