Maio_2009 - page 14

Entrevista
R e v i s t a d a E S P M –
maio
/
junho
de
2009
14
}
OBrasil nãopodemais estar fora
dasdecisõesmundiais.
~
lugar e–naFIFA– temos umditado:
“A bola não pode parar, ela tem de
estar rolando sempre, é um exem-
plo”.Quandocheguei àFIFA, estaria
mentindo se dissesse que encontrei
20 dólares em caixa – não havia
nada. E, quando saí, 24anos depois,
deixei, em caixa, quatro bilhões de
dólares – veja o respeito, o trabalho
e os resultados dasmudanças. Antes
de ir para a Europa, de ser eleito,
eu conheci todo o meu país, fui a
todos os Estados como presidente
da CBD, pelo menos três a quatro
vezesporano,conhecia todomundo.
O pernambucano, o paraense e o
amazonense raciocinamdiferentedo
gaúcho, dode SantaCatarina, como
o homem deMatoGrosso raciocina
diferentedobaiano,dopernambuca-
noedenósmesmos.Omundoé isso,
mas eu já tinha isso dentro demim.
Acho uma vantagem respeitar todas
as raças, elas são iguais.
Gracioso – Devemos respeitar
asdiferenças.
João Havelange – Todos são
iguais e a bola leva a isso. Numa ar-
quibancada, todossão iguais;quando
sevai aumbanquetenão, os lugares
estão marcados na cabeceira, aqui
e ali, há diferenças. No futebol isso
não existe. Na FIFA, só a Europa se
movimentava,porque tinhadinheiro.
Eu tive a felicidade de fechar dois
bons contratos, um com a Adidas
e outro com a Coca-Cola – e, com
isso, comecei a teros recursosparao
desenvolvimento, cursos deTécnica,
deArbitragem,deMedicina,deAdmi-
nistraçãoenfim, tudoqueénecessário
paraavidado futebol.
JRWP –Quem teve a ideia de ir à
AdidaseàCoca-Cola–eles toma-
ram a iniciativa, ou foi a FIFA, o
senhor – quando e como surgiu
essa ideiadopatrocínio?
JoãoHavelange –Quem havia
apoiado a campanha do Stanley
Rouse à presidência da FIFA foi a
Adidas; perdeu,mas teve a grande-
za de compreender que, na vida,
a gente ganha e perde; mas eu fui
primeiro à Nestlé na Suíça que é
emVevey. Além de poderosa, eles
têm uma organização perfeita. Fui
visitá-los, levei o programa, eles
analisaram e responderam que não
interessava; aí fui paraNova Iorque,
levei o programa à Pepsi-Cola, fui
muito bem recebido e ficaram de
responder dentro de 10 dias. Estou
esperando até hoje.
JRWP–Oquelevouosenhorapro-
curaressespatrocinadores– foram
suas experiências anteriores com
esse tipodepatrocínio?
JoãoHavelange – Eu sabia que
um dos maiores poderes na Suíça
era a Nestlé, que está no mundo
todo; ela deve estar emmais de 40
ou 50 países; aCoca-Cola, como a
Pepsi-Cola, estáem todosospaíses,
a Adidas praticamente estava em
todos os países do esporte.
JRWP –O senhor consideraria
essas empresas como entida-
des que podem ser fatores de
aproximação entre os povos –
como a FIFA?
JoãoHavelange–Exatamente.
Gracioso – De certa forma, o
senhorteveumaantevisãodopapel
queoesportedesempenhahojena
promoção comercial da imagem
de companhias. Hoje tudo parece
muitonatural,masestamos falando
de35anosatrás.
JoãoHavelange–Perdoea falsa
modéstia,mas eu tive a visão. Dese-
java tanto o desenvolvimento do es-
porte,queprocurei–comoprograma
quehaviacriado–podercolocar isso
emexecução.Paraminhaeleição– fui
muitocriticado, todosdiziamqueeu
me serviadaCBD–antesdaeleição,
fui a 86 países, por minha conta,
inclusive todos os países do Golfo
Pérsico, que são oito. Em 1972, era
um areal, não tinha nada; fui bem
recebido e todos votaram comigo;
como todaaCortinadeFerronaque-
la época; estive lá pela primeira vez
em 1962 e todos se encantaram, fui
com a Seleção daCBD, prestei uma
homenagem,no jogoBrasilXRússia,
emMoscouaoLevYachine,queerao
maior goleirodomundo, naépoca...
JRWP–AranhaNegra...
João Havelange – Exatamente.
Entregueiaeleumamedalhadeouro,
comemorativaaoqueele representa-
va, ele jamais se esqueceu, e todos
votavamcomigo.
JRWP–Eleaindaestávivo?
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