Janeiro_2002 - page 75

116
Revista daESPM –Março/Abril de 2002
JR – Que aliás, você como bom
literato – paralelamente à sua
carreira–nãosó influenciou
como tem condições de
avaliá-la.
AN – Eu estou avaliando
aospoucos.Estouatécom
medo. O que acontece?
Ela mora com a mãe
nos Estados Unidos
eestuda lá.Então,
está sofrendo
uma influência
cultural dos
Estados Uni-
dos. E numa
época em
que está
exacerbadoosentimentonacionalis-
taamericano. Eu ficocommedoque
ela fique imbuídadessesentimentoe
percaassuas referênciasbrasileiras.
JR – Como você vê as carreiras
profissionais mais ligadas ao
esporte: esportista, jornalista,
empresáriode esporte?
AN –Eu tenhodeadmitirque, oque
antes era uma coisa de puro prazer
– que não tinha remuneração
satisfatória–,hoje,valeapenacomo
investimento. Eunãoacreditoquea
geração Eurico Miranda – que é a
geração quemanda no futebol bra-
sileiro – perdure.Até porque vai ha-
ver forçasbiológicasporumasuces-
são e novos quadros virão por aí.
Achoqueomarketingesportivoéum
bomcaminhoparao jovem.O jorna-
lismo esportivo, exercido com sen-
socrítico, éumbomcaminho. Inclu-
sivecomaperspectivada televisão,
ofereceumaoportunidademuitoboa
para quem se preparou, se qualifi-
cou, cuidou da sua dicção, da sua
articulaçãoverbal, dasuacapacida-
deoral.Outrodia, emconversacom
o Elton Simões, surgiu a pergunta:
por que não fazemos uma empresa
para formarprofissionaisem jornais,
rádio e televisão, no esporte? Por-
que, nasuniversidades, jáexiste, no
currículo, umacadeirade jornalismo
esportivo. A formação do jornalista
esportivo é peculiar; é diferente da
formação na carreira de qualquer
outravertentedo jornalismo, porque
é respaldada por um sentimento de
amor ao esporte, que torna muito
mais autêntico o papel do cronista,
do jornalista esportivo. Ele vai fazer
uma coisa da qual ele gosta e que
até gostaria de fazer, de praticar.
Quemdenósnão jogouumapelada
quando garoto? E, na verdade, fa-
zer profissionalmente aquilo que
você
gostaria
de
fazer
prazerosamente proporciona uma
dupla alegria – profissional e senti-
mental, pessoal de fazer aquilo.
Quando eu saí da TV Globo – em
1990 –, me ofereceram algumas
oportunidadesprofissionais–atéde
dirigir departamentos de jornalismo
deoutras redes– eeudisse: “eu fiz
evou fazeramelhoropção.Vouvol-
tar a escrever sobre o que gosto”.
Apenas abri o meu leque. Como a
televisão trouxe para cá os jogos
olímpicos; comosurgiuovôlei; como
apareceram os esportes olímpicos
de ummodo geral. E eu disse: “vou
tentar gostar desses esportes; não
entendê-los, mas começar a gostar
deles, porqueeuestarei nomeupe-
queno mundo, no meu universo,
tinha mais
talento do que o
Guga”. Porque o Guga
se tem inspiração, émuitomais
transpiração.Então, voltamosàque-
lepontodanossaconversa.OGuga
devia – em nome da transpiração,
da necessidade demalhar que ele
temporqueele treinademais – ter-
se fortalecidomelhor. Eledevia ter-
se transformadonoatletaquenun-
ca foi, porque faz umesforçomuito
grandeparachegar àperfeiçãoda-
quelas paralelas. Coisa que a Ma-
riaEsther não fazia.Atéporque, na
épocadela, ninguém treinava tanto
quanto se treina hoje em qualquer
esporte.
JR–Oesporteéummaterialmuito
rico, interessante. Gostaria de
continuar –poishá tantacoisade
que não falamos. Mas, Armando,
você tem filhos, netos?
AN – Tenho um filho que trabalha
noSporTv –dirigeeventos. Nesse
momento, está fazendoos jogosda
Olimpíada de inverno. O nome
dele é Armando Augusto Maga-
lhãesNogueira. Eleestá fechando
o projeto da Copa do Mundo na
Coréia e no Japão. E tenho uma
neta que não sei se vai ter inclina-
çõesesportivas.Mas, poéticas, eu
já vi que tem, porque quando me
escreve, me manda um poema. E
com oito anos de idade!
“Televisãoéum
atocoletivo.Eu, fui
umapeçadeuma
belaengrenagem
que foimontada
naRedeGlobo.”
1...,65,66,67,68,69,70,71,72,73,74 76,77,78,79,80,81,82,83,84,85,...103
Powered by FlippingBook