Janeiro_2002 - page 74

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Revista daESPM –Março/Abril de 2002
JR–Tratandodeoutrosesportes:
o Guga andou perdendo muito e
também é um homem rico. Você
achaqueexisteuma relaçãoentre
asduas coisas?
AN – Existe e permanentemente
existirá um certo relaxamento, uma
certa saturação. No caso particular
doGuga, eu tenhoumadesconfian-
ça – que vem desde o primeiro ano
emqueeleganhouo título, em1997
emParis.Eu fiquei preocupadocom
a estruturamuscular doGuga, para
suportaramaratonaqueéuma tem-
poradade tênis, variandodequadra
rápida para quadra lenta; quadra
dura para quadra mole; hotel, con-
centração, viagens, aeroporto. Eeu
sempreachei queoGugadeveria ter
incorporadoaoseu time–ao ladodo
Larry –umpreparador físicoquede-
senvolvesse a suamusculatura, tan-
to dos membros inferiores quanto a
musculatura lombar.Eleprecisava. In-
clusive fuialvodealgumascríticas,de
círculosmais próximos dele – o pró-
prio treinador me pôs na lista negra
porqueeuestavaquerendo“inventar”,
dizendoqueoLarry tomariacontadis-
so.MasoLarrynãoéumpreparador
físico;nãoentendenadade fisiologia.
E a verdade é que todos os tenistas
têm o seu
personal trainer
, que é o
sujeitoque trabalhaasuamusculatu-
ra.Depoisdepassar umano,martiri-
zado por dores lombares, pubiana,
com problemas no quadrícepes, no
ombro, o Guga estreou, em Buenos
Aires, e jáestreou, chamandoomas-
sagista. Talvez seja um dos tenistas
mais assistidos por ummassagista
durante uma temporada. Por quê?
Porque não preparou amusculatura
para a grande batalha que é ter que
sacara180km/h,acorreremquadra
dura, a correr em sol quente, embai-
xodecalor, frio.Éumagrandeprova-
ção. Ele ganhoumuito dinheiro. Mas
–emapenascinco, seisanosdecar-
reira–émuitopouco tempoparaes-
tar tãoespoliado.
JR– Eoautomobilismo?Eu tenho
saudade do Senna. Mas também
tenho uma saudade imensa do
Nelson Piquet, do Emerson
Fitipaldi.AtédoJoséCarlosPace.
Oquehouve?Hojehámaisgente
correndoe,noentanto,não temos
mais aquelas alegrias que
tínhamos com aFórmula 1.
AN –Acompanhar a Fórmula 1 não
é omeu forte. Mas você citou oAir-
tonSenna, oNelsonPiquet,oEmer-
son Fitipaldi. O José Carlos que foi
vítima de uma fatalidade – morreu
quandoestavadespontando,pilotan-
do um avião. E impressionante. Ou-
trodiaconhecium jovemqueestáco-
meçandoa fazer sucessonaFórmu-
la3.Bati umpapocomele.Ele jága-
nhoualguns troféus.Aquantidadede
brasileiros correndo no circuito inter-
nacional é inimaginável. Nós temos
umavocaçãoparavelocidade,nãohá
amenor dúvida. Temosperspectivas
de formar novospilotos.Mas, figuras
excepcionais–extra-classe–agen-
te não tem assim de uma hora para
outra. Quanto tempo nós levamos
para ter umGuga, depois de ter tido
umaMariaEsther Bueno.
JR–Nãoéumacidente termosum
Guga em um esporte tão pouco
praticadonoBrasil comoo tênis?
Omaior tenistaque tivemosantes
foi o Tomaz Koch. Mas acho que
elenuncachegouaestar entreos
dez primeiros.
AN – Koch, que tinha um grande ta-
lento, jogou forao seu tênis. Eu cos-
tumodizerqueaglóriaea fortunasão
duasserpentes,queseescondemnos
jardinsdosdesavisados.Averdadeé
essa. Eéoqueacontece com todos
eles. Aconteceu com o Tomaz. Até
porque ele dissipou a sua carreira e
começoua fazer bobagens–menini-
ces,delírios.Tivemosoutraspromes-
sas como o CássioMota. Na verda-
de, o fenômenoEder Jofrese repetiu
quase cinqüenta anos depois com o
Popó.AMariaEsther Bueno, segun-
dome diziam um dia desses, foi um
fenômenomaisextraordináriodoque
oGuga, paraaquelaépoca.
JR – Ela foi mais consistente do
queoGuga.
AN –Mais consistente e mais dura-
doura. E depois ela teve um proble-
ma no braço. Eu perguntei a uma
pessoa como se explica isso. E ela
disse: “Porque Maria Esther Bueno
“Adiferençaéque
osargentinoseos
francesesestão
muitofelizese
confiantescomas
seleçõesdeles.”
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