Janeiro_2002 - page 62

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Revista daESPM –Março/Abril de 2002
JR – Armando, você já começou
suavidaprofissional trabalhando
em jornalismo?
AN –Sempre. Nasci noAcre; fui re-
visordo
JornalOficial
no territóriodo
Acre. Nessa função, eu já sentia
uma certa “inclinação” – não gosto
dessapalavra. Fui umbomalunode
portuguêsesó.Nenhumaoutrama-
téria, no primário e no secundário,
me fascinou tanto.
JR – Por que será que o pessoal
do norte/nordeste do Brasil tem
tanto amor pelapalavra?
AN – Nuncame detive para pensar
nisso. Quem sabe, poderíamos
especularem tornodeumacoisaque
éamusicalidadedapalavraeque–
atépor razõesclimáticasnas regiões
NorteeNordeste–émaisacentuada.
Achoqueapalavraexerceumgrande
fascíniosobreonordestinoeonortista
de um modo geral. Se você for
pesquisara literaturadeCordel,vaiver
que não é uma literatura escrita – é
uma literatura falada, muito musical,
feitapara ser cantada. Nomeu caso,
ogostopelapalavraveioprimeiro,pelo
interesse que eu tive pela gramática
e, sobretudo, pelas figuras de
linguagem – uma coisa que me
fascinoumuitonosprimeirosanosde
estudo.Quandoapalavracomeçaa
adquirir um sentido místico, um
sentidometafísico,começaa teruma
existência espiritual, e não essa
coisa concreta que a gente,
primariamente, domina. Lembro-me
deque, todasasvezesque iaparao
colégio, ainda no primário, passava
na porta de um hotelzinho onde
estava, plantado a uma mesa,
tomando gim com vermute, o
promotor públicoda cidade, queera
umpoetachamadoJuvenalAntunes.
Poderia, sem erro, até declamar os
seus poemas. Ele declamava aos
Entrevista
“Apalavraexerce
umgrandefascínio
sobreonordestino
eonortistadeum
modogeral.”
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