Maio_2005 - page 64

Os
YesMen
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REV I STA DA ESPM–
S E T EMB RO
/
OU T UBRO
D E
2005
funcionários e muito menos ele era
seu porta-voz autorizado a dar tal
notícia, rigorosamente falsa. Era só
mais uma ação dos críticos dos
yes
men
, dois bem-humorados
programadores de informática e
professores de vídeo em
universidades de Paris e Nova York,
que se ocupam de dizer os maiores
absurdos em nome de organizações
internacionais que supostamente
representam.
Por muito tempo, muita gente acre-
ditouneles. AndyBichlbaum eMike
Bonnano fizeram um filme sobre
como “as pessoas engolem as coisas
mais atrozes e grotescas todo dia” e
o apresentaram emGenebra.Os
yes
men
sãoos responsáveispelaspautas
de rádio e TV, inclusive os diretores
dasemissoras,os jornalistasdemeios
impressos, e, óbvio, o chamado
distintopúblico,queosvê,osrespeita
e acredita, piamente, sem qualquer
discussão, em qualquer sandice que
veja, escute ou leia. Porque não há
qualquer critério na crença dos
yes
men
; tudoqueéditoporalguémque
seapresenta,porexemplocomo fun-
cionário de uma importante orga-
nização internacional, vira verdade.
Basta, como mostraram os dois
americanos gozadores, “saber falar
do modo certo e usar o meio de
comunicação certo”.
A açãodos dois começou em1999,
quando no rastro dos protestos con-
tra a Organização Mundial de
Comércio (OMC), eles criaram um
site
“contraaglobalização”eumdia
resolveram se oferecer para falar em
um programa de TV na rede
americana CNBC como “porta-voz
da OMC” para criticar a entidade,
falando por ela. Andy imaginou que
sairia do estúdio preso, mas acabou
saindo com um convite para voltar.
Não paroumais. Foram convidados
logo depois pela universidade de
Tampere, na rica e educada Finlân-
dia, um centro de estudos de glo-
balização, para falar pela OMC.
Correramomundo, falandoascoisas
mais absurdas como o “custo
aceitável de um escravo globa-
lizado” na indústria têxtil.
Na Áustria, em 2001, em uma se-
qüência de palestras, defenderam
(como funcionários da OMC) que a
democraciasópoderiaserverdadeira
se permitisse, em nome domercado
livre, a compra e venda de votos.
Na Austrália, no ano seguinte,
defenderam nada menos que a
extinção da OMC porque, como
funcionários, eles estavam
informando que a entidade já sabia
como“acabarcoma fomedomundo,
por desenvolver tecnologiacapazde
transformarosexcrementoshumanos
dospaíses ricos emproteínasparaos
países pobres”.
Nunca foram incomodados por
ninguém.Falaramoquequiseramem
nomedaOMC, daOrganizaçãodas
Nações Unidas, entre outras
instituições menos famosas. E foram
reproduzidos na imprensa, inclusive
nos grandes jornais mundiais, redes
de TV, universidades e, também, em
grandes associações empresariais
que os convidaram e os pagaram a
peso de ouro, para “debates”. Só
pararam quando os dois
“funcionários”quiseram.Umresumo
das situaçõesmaishilariantes vividas
por eles está no filme
The YesMen
,
apresentadoemGenebra,em janeiro,
logo após o “episódio” envolvendo
a
BBCWorld
(Moreira, 2005).
Andy Bichlbaum contou que gas-
tavam os pró-labores que ganhavam
Amaioriadas idéiasescabrosasdeque falavam, naspalestrase
talk-
shows
, retiravamdos livrosque liam.Apenasas revestiamdeumcerto
toquedebom -humor.
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