Julho_2003 - page 29

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R E V I S T A D A E S P M –
J U L H O
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A G O S T O
D E
2 0 0 3
HermanoRoberto Thiry-Cherques
semuitas vezes intoleráveis para as
organizações.
Por último, temos como fonteda in-
tolerânciapsicológicaocaráteremo-
cional dequepor vezes se revestea
relação entre o empregado e o em-
pregador.Essaéoutradimensãodifí-
cildeprecisarcomdados.Ogrande
empecilho para se ajuizar quanti-
tativamente o limite da tolerância
psicológica é o seu caráter privado.
A tolerânciapúblicaéuma indulgên-
cia social, às vezes oficial. Em geral
ligada à abstenção de alguma ação
contraquemultrapassaos limites.A
tolerânciaprivada seconfundecom
a compassividade para condutas e
crençasdosoutros (Meyer,2002).O
limiteda tolerânciaédadonãopela
conduta incorreta,masparaquema
condutaé sentidacomo incorreta.
A freqüente e muitas vezes mal-in-
tencionadaconfusãoentreoqueéa
condutadesejável pelaorganização
eoque é a conduta legítima tem as
mesmas raízesdadefesadopolitica-
mente correto no interesse particu-
lar. Por exemplo, a idéia de que é
impolidoou inútil queixar-sede ser-
viçosmal prestados ou de produtos
com especificação aquém do que
seria razoável fazpartedanossacul-
tura. Omesmo se passa no âmbito
organizacional.A lealdadeéconfun-
didacomasubserviência.Poucosse
dão conta de que o único bom ca-
brito que não berra é, claro está, o
cordeiro. O homem cordial, tantas
vezes desmentido e explicado pelo
seu autor, Sergio Buarque de
Holanda (1976), é o que coloca o
(bom) coração acima dos seus inte-
resses.Tambémacimados interesses
dasociedade.Éocomplacente. Um
marido complacente entre nós é
objetodepenaouzombaria.Porque
não se dá omesmo em outras ins-
tânciasquenãoadopodermachista
é ummistério para os antropólogos
resolverem.O fatoéque,nasnossas
organizações, a queixa, a busca do
direito,éconsiderada faltaderespeito
ea faltade respeitonãopode ser to-
lerada sob pena de fazer ruir a tola
disciplina organizacional ou a hon-
ra infantil dequemnão levadesafo-
roparacasa.
Arupturaentreaorganizaçãoeo tra-
balhador se dá, muitas vezes, por
essaconfusãoentrerazãoesentimen-
tos, pelaemocionalidadedescabida
dedirigentesedeempregados.Ora,
o respeito e a tolerância são instân-
ciasdiferentes.Respeita-sea lei;não
se toleraa lei.Damesma formapo-
demos respeitar os outros sem tole-
rar suas opiniões e atos. O limite
psicofísicoda tolerância não émar-
cadopelodesrespeitooupelaagres-
são. Ele émarcado pela recusa ao
convívio.A tolerância físicaepsico-
lógica terminaporsedesfazernos três
limites, odo esforço, odas paixões,
o do pensamento, no limite da
racionalidade apontada por
Espinosa.Háumpontoquenãopode
ser ultrapassado sejapelo empenho
requeridoouofertado,sejapelacom-
patibilidadedaspersonalidades,seja
pelas seqüelas do ruídona comuni-
cação, sejapeloemocionalismodas
relações, seja, enfim, por qualquer
combinaçãodesses fatores.
O LIMITE
ÉTICO
Apar da tolerância política e da to-
lerânciapsicofísica,cujos limitessão
elásticos, temos a tolerância ética,
que é inelástica.Nenhumdos argu-
mentos a favor da tolerância se sus-
tentaquando se tratadaquestãoéti-
ca. Dopontode vistamoral, a tole-
rânciaéodesrespeitoda sociedade,
do indivíduoedaprópriaconsciên-
cia.Aqueleque toleraa transgressão
éticaaceitaqueooutroouelemes-
mosecomportedeumamaneiraque
sabeerrada, falsa, imprópria.A tole-
rância com amoral não é um bem
nem um dever. É a complacência
comquemnão cumpreodever. Ela
nãoéumavirtudecomoa justiçaou
comoa liberdade.A tolerânciapode
ser virtuosa no campo político, no
campopsicológico, seequandoau-
torizada pela ética. Mas nunca no
campoestritodaética.
Tolerar eticamentenãopode signifi-
carumaautorizaçãoparaviolarprin-
cípios morais. É uma autorização
que só se justifica no caso de igno-
rância, comoadacriançaoudode-
mente, ou no caso da não-
intencionalidade. A tolerância ética
nesses casos éumaopçãode como
reagir aessas ações, éumacompre-
ensão da fraqueza humana, é uma
reaçãobrandaaodesvionãodelibe-
rado. De resto, a tolerânciamoral é
“Na
administração
científica, o
monopóliodo
conhecimento
sobre o trabalho
pelo gerente
provocauma
concentraçãode
conhecimento
emuns poucos e
a execução cega
do trabalhopor
muitos.”
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