Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 39 S o f i a E s t e v e s GRACIOSO – O que a indústria brasileira está precisando é agregar valor aos produtos. Os americanos são grandes expor tadores de matérias-primas e produtos agr ícol as e pul am para o topo da pirâmide vendendo ao mundo alta tecnologia. Infelizmente, ainda não chegamos lá. ANNA GABRIELA – Mesmo com todos os problemas de infraestrutura, o Brasil ainda cresce. Vamos chegar a um PIB de R$ 2,4 trilhões. Qual é a sua ava- liação sobre a posição atual do país? SARDENBERG – O Brasil está em uma en- cruzilhada. As reformas que foram feitas a partir do real transformaram o país, com a introdução do controle da inflação e das contas públicas, além da forte mudança nas contas externas, graças a China. O regime de metas da inflação, a lei de responsabili- dade fiscal e a eliminação das dívidas e dos bancos estaduais garantiram ao Brasil uma estabilidade macroeconômica, que permitiu a volta de crédito, consumo e crescimento. Pegamos uma carona no crescimento da China, que despontou no século XXI de- mandando produtos que tínhamos para vender, justamente porque fizemos esse conjunto de reformas. As virtudes dessa estabilidade macroeconômica estão apare- cendo agora. Basta olhar a volta do crédito, que sumiu do mercado nacional no final dos anos de 1970 e retornou no ano 2000. Isso irá permitir ao Brasil crescer 4,5%. Esse re- sultado é melhor do que o dos anos de 1970, 1980 e 1990. Agora, quando comparamos o Brasil com os emergentes mais dinâmicos, estamos andando para trás. Nossa média de crescimento é menor do que a média dos emergentes e dos países latino-americanos. Se continuar desse jeito – com os emergentes crescendo 7% e o Brasil, 4%, o mundo vai ficar mais rico que o Brasil. É preciso acelerar esse ritmo por meio de mudanças substanciais, que passam pela redução da carga tributária. A falta de infraestrutura do Brasil só se resolve com um choque de privatização, porque o governo não tem dinheiro nem capacidade para executar esse tipo de obra. A transpo- sição do rio São Francisco, por exemplo, está parada por conta de contratos malfeitos. Os engenheiros desenharamum canal impossível de ser construído. O mesmo acontece com a ferrovia do Tocantins, um Estado que tem uma pecuária extraordinária e cria gado da melhor qualidade. Os produtores só precisam dessa ferrovia, que há anos está sendo construída. ANNA GABRIELA – Em 2008, você escre- veu o livro Neoliberal, não. Liberal (Editora Globo). Hoje, se fosse reeditá-lo, mudaria alguma coisa? SARDENBERG – Não, porque o Brasil tem agendas erradas. Quando a crise de 2008 começou, disseram que foi por conta do excesso de mercado livre. Mas não é esse o problema do nosso país. O Brasil não tem excesso de mercado e sim falha de governo. Não dá para querer passar aqui a agenda americana. O Brasil não tem capitalismo liberal, então, não precisa reformar nada. O que temos é um governo ruim. Sei disso porque nossos alunos vão mal na escola, o sistema de saúde é péssimo... GRACIOSO – Foi uma entrevista belís­ sima. Obrigado. } Ter gente que ganha pouco e produz bastante é per fe i to para uma i ndúst r i a que preci sa de produt i v i dade ~ ES PM Carlos Alberto Sardenberg

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