Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

R e v i s t a d a E S P M – m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 38 E N T R E V I S T A deixou de ir às compras. No final de 2011, os Estados Unidos voltaram a crescer, a taxa de desemprego caiu dois pontos, o consumo aumentou e todos os indicado- res que temos hoje dos Estados Unidos são bons e mos t ram que a economi a americana está engrenando novamente. A Europa teve sorte, já que a Grécia que- brou, mas a zona do euro não entrou em colapso e está recuperando por meio de respostas coletivas da União Europeia, do Banco Central Europeu e dos países. Primeiro, montaram todo um pacote para a Grécia e criaram um fundo que já está em 800 bilhões de euros, que é o chamado Muro de Segurança. O Super Mario [ Ma- rio Draghi, chefe do Banco Central Europeu ] emprestou um trilhão de euros a juros de 1% e disse que nenhum banco europeu iria quebrar. O Banco Central Americano fez o mesmo, botou dinheiro e acabou. Est á cer t í ssimo, porque não há out ra alternativa. Nossa presidente diz que é um tsunami monetá r io, um ato host i l com os demais países. Mas suponha que nem o Banco Central Americano e nem o Eu ropeu f i zessem i sso. Haver ia um colapso nos Estados Unidos e na Europa que seria pior não somente para o Brasil, mas para o mundo. GRACIOSO – O Brasil está patinando por causa da crise ou por conta dos nossos próprios defeitos de fabricação? SARDENBERG – Com o real valorizado, o dólar é uma pancada na indústria brasileira. Recebi um estudo de um grupo de empresários que considera ideal termos o dólar a R$ 2,50. Mas isso é relativo. O Brasil impôs a restrição a importação de carros mexicanos, por exemplo. Mas como não conseguimos competir com o México, se a moeda dele também se valorizou? GRACIOSO – O brasileiro só inova quando é obrigado. SARDENBERG – Ando muito por aí e conver- so com empresários de diversos setores da economia. Vejo que os dois maiores proble- mas do Brasil são mão de obra e transporte. Outra dificuldade é o ambiente de negócios, que todo mundo reclama. São problemas que não estão relacionados com a queda ou a alta do dólar. GRACIOSO – Somos competitivos em mi- nerais e commodities agrícolas, setor que cresceu graças aos investimentos em tecnologia e também em logística. Por que a indústria não consegue fazer algo parecido? SARDENBERG – O agronegócio brasileiro é um espetáculo. Hoje, a maior parte da nossa soja está no cerrado, em uma área que foi preparada para receber essa cul- tura. Essa soja foi inventada para o clima e o terreno dessa reg ião. Assim como a carne brasileira, é toda controlada, por isso é um sucesso e vende em todo mun- do, mesmo com o governo algumas vezes atrapalhando as negociações. O minério de Carajás, da Vale, é igual: ele é mais caro que os demais, por ser de melhor qualidade. O país pode ser um g rande exportador de commodities e de minério de ferro. Mas precisa fazer outras coisas também. E, não se pode dizer que não temos indústria por causa das commo- dities. Isso é uma bobagem. } Nossa méd i a de crescimento é menor do que a méd i a dos emergentes e dos pa í ses l at i no-amer icanos ~

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