Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 105 se a transformação não acontecer, teremos um mundo cada vez mais estatizado em áreas estratégicas. Qual é a implicação disso para nós? Deixo essa questão para um próximo debate. GRACIOSO – Estou de acordo com as opiniões que ouv i. Também não acredito em reformas. Se já é difícil reformar uma empresa, imagine fazer isso em um país como o Brasil. Acredito na evo- lução subterrânea e silenciosa. No passado, Delfim Netto falava muito em “fazer o bolo crescer antes de dividi-lo”. Na verdade o nosso bolo cresceu e ao longo de toda a década de 1980 até o Plano Real –, o bolo começou a ser divi- dido, mas acabou. Agora, é preciso pensar num outro bolo. Pensando como empresário, é preciso fazer melhor o que já estamos fazendo bem. Duas forças motrizes impul- sionariam todo o resto. A primeira é composta pelas commodities. Além dos recursos naturais que Deus nos deu, temos uma geração de cientistas e técnicos que estão fazendo a agropecuária brasileira avançar com uma rapidez extraor- dinária. O Departamento de Co- mércio dos Estados Unidos estima que o Brasil vai se apropriar de 60% do crescimento do mercado de soja até 2020. Isto mostra nossa força competitiva. A segunda força motriz é a energia do pré-sal e do etanol. Com essas duas alavancas, o resto é empurrado para frente. CRISTINA – Preocupo-me com os cavalos selados, quando não se sabe para onde conduzi-los. Temos um passado que permite nos pre- ocuparmos com essa situação. A entrada de capitais é interessante, mas não para financiar o consumo enquanto não se consegue capita- lizar esses recursos em torno de algum projeto. De fato, programas de inserção de renda, como o Bolsa Família, redesenharamnossa socie- dade. Na área de educação, também tivemos grandes avanços com a ampliação das vagas das universi- dades federais e os programas de inserção, como o ProUni (Programa Universidade para Todos) e o FIES (Fundo de Financiamento Estu- dantil). Mas ainda precisamos dar um passo importante em relação ao nosso capital humano se quisermos internacionalizar a área de serviços. ILAN – Ag radeço as lições que recebi. Não sou economista, meu contato com essas realidades é o de interagir com alguns empresários do Espírito Santo, que exportam rochas ornamentais. Ao menos nesse setor, tudo aquilo que foi dito aqui está presente. O Brasil é um grande exportador de rochas ornamentais, porque temos uma diversidade de cores e padrões que encanta o mundo. O país exporta US$ 1 bilhão por ano. Acontece que para exportar a rocha, que está no norte do Espírito Santo, o material deve antes passar pela área de processamento, que fica no sul do Estado e um bloco de rocha pesa 27 toneladas. Esse material vai do norte para o sul de caminhão. São 500 blocos por dia transitando pe- las estradas capixabas. Imaginem o impacto disso sobre a malha viária e o conflito que essas coisas geram. O problema não acaba aí, porque depois que o bloco é cor- tado, precisa ser exportado pelo porto de Vitória, que é assoreado, onde os navios só podem entrar ou sair em determinadas marés. Esse é um setor representativo da economia, que para evoluir precisa de reformas e projetos políticos que favoreçam a industrialização. Caso contrário, iremos continuar na dependência de que a China importe nossos blocos. Vejo nesse setor um reflexo dos desafios que temos pela frente. GRACIOSO – Ainda não resolvemos o enigma, mas essa foi uma discussão inteligente. É curioso que pela nos- sa formação intelectual estamos, de certa forma, condicionados a pensar apenas em soluções lógicas e previsíveis. Muitas vezes, as coisas acontecem de forma imprevisível. No Brasil, principalmente, a má- gica ajuda a encontrar o caminho. Obrigado a todos. } Quando nos sos netos es t u- darem esse per íodo, a cr i se de 2008 será apenas uma nota de rodapé em um ex tenso cap í tu l o sobre a ent rada da Ch i na como agente econômico ~ ES PM

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