Setembro_2008 - page 123

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R E V I S T A D A E S P M –
JANEIRO
/
FEVEREIRO
DE
2008
Ponto de
vista
O
ANDREADANTAS
A
ES
PM
Idéia daminissaia não éminha, nem
de Courrèges. Foi a rua que a inven-
tou.” “Uma moda que não chega
às ruas não pode ser chamada de
moda.” Com a primeira afirmação,
a inglesa Mary Quant, apontada
freqüentemente como a inventora
da minissaia, não deixa dúvida: o
estilo de vida influencia a moda.
Já a frase da estilista francesa Coco
Chanel trafega na mesma via, em
direção oposta: a moda influencia o
estilo de vida. A troca entre estilos
de vida e moda, moda e estilos de
vida, acompanha a história da hu-
manidade. Moda é mais do que um
fenômeno cultural; aomesmo tempo
em que é influenciado pelo contexto
social, políticoeeconômico, também
influencia comportamentos e esse
mesmo contexto.
Basta lembrar que, ansiosos por
liberdade, os jovens dos anos 60,
que queriam tanto se desprender
do passado e dos cânones vigentes,
acabaram criando outro: amoda era
não seguir a moda. Usar minissaia,
para milhares de jovens, era ser
transgressor, era, se opondo às saias
compridas usadas por suas mães e
avós, ir contraa filosofiadas gerações
mais velhas. MaryQuant percebeu e
soube tirar proveito disso.
Estilistas poderiam ser considerados
uma espécie de antropólogos, psica-
nalistas, futuristas ehistoriadores.Os
bons de verdade sabem interpretar
um desejo que a maioria das mu-
lheres ainda nem sabe que tem. Não
foi isso que fez Christian Dior com
seuNew Look de saias volumosas no
pós-guerra, no final dos anos 40, ao
devolver àsmulheres, depois de anos
de escassez, o glamour, o otimismo,
o sonho e o luxo? E foi suamoda que
resgatou a alta-costura, atraiu ameri-
canos ricos e recolocou a França,
que tinha visto o nazismo fechar
suas ‘maisons’, de volta ao panteão
mundial da alta-costura.
A receitaprescritaporDior – luxopara
combater a depressão – é, até hoje, a
favorita das classes mais favorecidas.
Edas classesmenos favorecidas, tam-
bém, pois comas lojas de
fast-fashion
espalhando-se, rapidamente, é fácil
ter acessoapelomenos umpoucodo
luxo que enche as páginas da
Vogue
America
e os olhos das mulheres do
mundo todo.Domundo todomesmo:
até os de mulheres de (outrora) re-
motos países asiáticos, comooAfega-
nistão, onde a moda e o desejo que
ela constrói fazemmulheres usarem
grifes famosas por baixo de suas bur-
cas e, pouco a pouco, reivindicarem
mais liberdade...
A história está repleta de exemplos
da força propulsora da moda. Nos
anos 20, livres dos espartilhos do
século XIX, as mulheres da era do
jazz – as melindrosas – buscavam
vestidos soltos, mais curtos, braços
à mostra e total conforto para
dançar o Charleston.
Épossível imaginar omundocontem-
porâneo sem calça jeans? Quando
os imigrantes Levis Strauss e Jacob
Davis, em1800ealgumacoisa, resol-
veram transformar em roupa as lonas
que eram usadas nas barracas, para
criar um vestuário resistente, logo
adotado pelos mineradores do oeste
americano, jamais imaginaram que
sua invenção ganharia tantas grifes
e status. Muito menos que chegaria
o dia em que se pagariamais, muito
mais, por um jeans ‘grifado’ todo ras-
gado e com aparência de velho.
Sim... na moda existem gostos e
gostos. ComodiziaMademoiselle, “a
moda reivindica o direito individual
de valorizar o efêmero”. Mas isso já
é uma outra discussão.
ANDREADANTAS
Diretora deComunicaçãodaNIdéias
M
D
A
ESPELHODAHISTÓRIA
IrumShahid
Divulgação
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