Marco_2009 - page 51

Leonardo
PaceAlves
março
/
abril
de
2009 – R e v i s t a d a E S P M
51
notas
1.
Quanto a essas duas perspectivas, ver:
Zakaria, Fareed. “The future of American
Power: how America can survive the rise
of the rest”.
ForeignAffairs
,May/June2008.
Haass, RichardN. “The ageofNonpolarity:
what will followUS Dominance”.
Foreign
Affairs
.May/June 2008.
2.
Sobreas vantagensdeadotar-seumenfo-
que regional, sem, contudo,desconsiderara
abordagem sistêmica mais abrangente, ver
BUZAN, Barry &WAEVER, Ole. “Regions
and Powers. The Structure of International
Security”.Cambridge:CambridgeUniversity
Presse, 2003.
3.
O termo“Eurásia”abarca, aum só tempo,
ocontinenteasiáticoeoeuropeu.A respeito
da importância desse espaço estratégico
paraaGeopolíticadosEUA, ver Brzezinski,
Zbigniew. “The Grand Chessboard: Ameri-
can Primacy and its Geostrategic Imperati-
ves”. NewYork: Basic Books,1997.
4.
Castañeda, G. Jorge. “Morning in Latin
America: thechances for anewbeginning”.
ForeignAffairs
. September/October 2008.
5.
Esses fatores têm levado alguns analistas
a conceberem oBrasil como uma potência
emascensão. Para ter-seumaboa ilustração
dessa leitura otimista, ver: Onis, de Juan.
“Brazil´s Big Moment: a South American
giantwakesup”.
ForeignAffairs
.November/
December 2008.
LeonardoPaceAlves
Cientista Social pelaUFF. Mestre pelaUni-
versidade de Uppsala (Suécia) em Estudos
Internacionais e pela PUC-RJ em Relações
Internacionais. Professor da ESPM.
ES
PM
um acampamentodas FARCs, situado
em territórioequatoriano,emmarçode
2008,representougraveviolaçãodaso-
beraniadoEquadoreencetousériacrise
diplomáticaentreosdoispaísesandinos.
Com efeito, esse evento relaciona-se,
diretamente, adois focosdedesestabi-
lizaçãonaAméricadoSul,quaissejam,
osEstadosUnidoseaVenezuela.
ApresençamilitardosEUAnosubcon-
tinente, tendo como cabeça-de-ponte
o Plano Colômbia, constitui-se em
permanente fonte de inquietação dos
demais países da região. A aquisição
por parte de Bogotá de novos equi-
pamentos bélicos, financiados por
Washington, vem nutrindo o temor
exagerado deCaracas quanto à ocor-
rência de um confronto direto com
a superpotência, a partir do território
colombiano. A isso se soma omedo
dos outros vizinhos de acontecer o
“transbordamento”doconflito interno
colombiano,mediante o ingressodas
FARCs no seuespaço soberano, afim
de escapar das investidas do governo
centraldaColômbia.
Por sua vez, aVenezuela bolivariana,
marcadaporforteviésideológicoantia-
mericano,veminsuflandoonacionalis-
monaAméricadoSulmediantesuadi-
plomaciadopetróleo.Oestreitamento
desuasrelaçõescomoEquadorecoma
Bolívia,estribadonoapoiodiplomático
eeconômico,temestimuladoaradicali-
zaçãodacenapolíticanointeriordesses
países, agravando a instabilidade na
região.Osproblemasenfrentadospela
Petrobras na Bolívia bem como pela
Odebrecht epeloBNDESnoEquador,
o que se constitui em fonte de tensão
entreogovernobrasileiroeogoverno
dospaísesandinos, inserem-senesse
contexto menos propício à integra-
çãono subcontinente.
Além disso, tanto a doutrina antiter-
rorista dos EstadosUnidos aplicada à
Colômbia quanto às novas parcerias
diplomáticas da Venezuela com a
Rússia,oIrãeaLíbia,aoacrescentarem
elementos e atores exógenos à dinâ-
mica regional, estão tornando o con-
texto político do subcontinente mais
complexoe imprevisível.AColômbia
buscou legitimaraviolaçãodasobera-
niaequatorianacombasenadoutrina
doataquepreventivo, formuladapelos
EUAparajustificarainvasãodoIraque.
Igualmente,aVenezuela temutilizado
odiscursoanti-hegemônicoparaacer-
car-sedos trêspaíses supracitados.
A recente visita do presidente russo,
Dmitri Medvedev, ao Brasil, àVene-
zuelaeCuba, emnovembrode2008,
avultacomoumnítidoexemplodamis-
tura dos níveis regional emundial na
AméricaLatina.Essa incursão russano
chamadoquintal dos EUA, percebida
como resposta de Moscou à interfe-
rênciadeWashingtonnoconflitoentre
RússiaeGeórgia, emagostode2008,
encontra-setambémassociadaaorela-
tivoenfraquecimentodapresençados
EUAnaAméricaLatinaeàdiplomacia
anti-hegemônicadeChaves.Este,deli-
beradamente,provocaasuperpotência
ao efetuar exercícios militares com a
Rússia e ao esboçar uma cooperação
nuclear. Nesse contexto, a reativação
daQuarta Frota pelos EUA, em julho
domesmo ano, expressa apreocupa-
çãodeWashingtoncom suaperdade
influênciana regiãoecomapresença
depotênciasextracontinentais.
Em virtude dessa situação ainda ne-
bulosa quanto aos efeitos do esmo-
recimento do poder hegemônico, a
América do Sul pode caminhar para
um cenário de maior instabilidade,
resultante das desavenças entre suas
nações e da interferência de Estados
extracontinentais.AoBrasil,indubitável
potência regional, cabe fazerusoade-
quadodesuacapacidadedeliderança,
colimando aprofundar a integração
da região de maneira independente.
Aprovável reduzidaatençãoque será
dispensada ao subcontinente pelo
governoObama,emrazãodanecessi-
dadedeconcentrar-senasuperaçãoda
criseeconômicainternadosEUA,deve
servistacomooportunidadedesuperar
os óbices existentes para havermaior
cooperação sul-americana.
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