Marco_2009 - page 12

Entrevista
R e v i s t a d a E S P M –
março
/
abril
de
2009
12
ção. Foi umpresentedomundo, que
conseguimos aproveitar e nos saímos
muitobem.Agora,ganhamosumoutro
presente,queéoPré-sal.Éverdadeque
estáaseismilmetrosdeprofundidade,
a 200 quilômetros da praia, mas nós
sabemos como ir lá. E quais eram os
fatoresquedificultavamocrescimento
brasileiro? Ou uma crise de energia,
ou uma crise do balanço em contas
correntes. O Pré-sal, em cinco, seis
anos, significaasuperaçãosimultânea
dessesdoisproblemas.
Gracioso–Eagoracomaajudada
China,queninguém imaginava...
Delfim–Eudesconfiomuitodeajuda
de chinês, porque, depois de velho
–aos81anos – sei que sóexiste “ne-
góciodaChina”parachinês.Masvocê
tem razão.Na faixadeuns10bilhões
dedólares,provavelmente,vai-se fazer
um contrato de fornecimento, o que
é perfeitamente razoável. Mas não
esperoqueoBrasilse transformenum
exportador de petróleo importante;
petróleoémuitonobrepara ser gasto
em transporte, e nós desenvolvemos
– para o transporte – substitutos de
altíssimaqualidade, comoo etanol e
obiodiesel. Em cinco, seis anos, não
teremoscrisedeenergia,nemcriseem
balançadepagamentos,porqueope-
tróleo tiradocom inteligênciapermite
superar essas duas coisas. Acho que
está na hora e nós vamos aproveitar
realmenteessepresente.Não tenhoa
menor dúvida, oBrasil estápassando
por mudanças que poucas pessoas
perceberam. Por exemplo, estamos
passandoporumagrandemudançade
estruturademográfica,vamoscomeçar
a diminuir a população antes de ter
ficado rico. Se as coisas continuam
como estão, em 2040 chegaremos
a um máximo de 220 milhões de
habitantese,apartirdaí,vaidiminuir.
Houve uma outramudança, que é o
papel damulher.Opapel damulher
na sociedade, nadivisãodo trabalho,
se alterou completamente; a mulher
hojeéum ser independente...
Gracioso –Você sabequehoje,
nas universidades, há duas vezes
maismulheresdoquehomens?
Delfim–Sim.Nanovadivisãodo tra-
balho, elasnãoqueremparticipar sim-
plesmentecomoprodutorasdecrianças;
a fertilidadeera4,5%em1960, hojeé
1,8/1,9eestácaminhandopara1,5.Ou
seja, em 2040, a taxa de reprodução
nãomantémapopulação, elacomeça
adeclinar. Éuma sociedadeemqueo
número de jovens está diminuindo e
o número dos mais velhos crescendo
enormemente. Isso implicanumapro-
fundamudançadaspolíticassociais.
Gracioso – Por outro lado, pela
índoledonossopovo, oeleitor vai
querer cada vezmais soluções de
centro,nãovaiquerernadaradical.
Delfim–Achoquenósaprendemos.E
tivemosumasortelouca,porqueoBrasil
estava caminhando para uma solução
bem parecida com a dos latino-ame-
ricanos. Quer dizer, põe-se qualquer
porcarianoPoder,um sujeitoquevem
dizendo“vou fazerumBrasilnovo,vou
fazerumbrasileironovo”,umareprodu-
çãodeMorales,deCorreia,deChávez,
Ortega, uma droga dessas. Naminha
opinião o Lula foi o rito de passagem
emqueessaaventuramorreu.
JoséFrancisco–Consolidação
dademocracia.
Delfim–Quandoasociedadeé livre,
quando se tem um sufrágio universal
inteiramente livre, a probabilidade de
ummergulhocomoesseémínima.As
pessoas estãovendoquenãoháalter-
nativarazoávelparaissoaqui.Quando
se fala do “centro”, é, na verdade, o
conservador, aquele que conserva o
que presta emuda o que não presta,
não é tentar reconstruir a sociedade.
Cada vez que alguém tentou recons-
truir–queumcérebroperegrinotentou
inventarumhomemnovo–nós sabe-
moscomo issovai terminar.Esabemos
comovão terminaroChávez,Morales
nãosemantesdestruirosseuspaísese
algunsdelesestãoproduzindomaisde
umpaís,comoocasodaBolívia.Acho
que essa aventura terminou. Mesmo
no Brasil vê-se que os dissonantes,
na realidade, são importantes e até
exercemumpapel,queédedespertar
desejos, vontades, porque afinal de
contasvive-setambémdesonhos.Seria
formidável,umpaísondetodosfossem
livres, pudessem fazer oquebem en-
tendessem; um dia fossem sapateiro,
outro dia agricultor, no outro poeta
– comodiriao velhoCarlos, na Ideo-
logia Alemã. Quando se perguntasse
quemiriatrabalhar,elesresponderiam:
“Osescravos,naturalmente”.
José Francisco – Professor, o
senhorapresentaumavisãobastante
interessante da importância da im-
portação como fator de produção.
Gostariaquedetalhasseumpouco
issoparaosnossos leitoresporque
nós, brasileiros, ainda vemos a im-
portaçãocomoalgonegativo.
Delfim – É porque confundem as
identidades da contabilidade nacio-
}
Vamos crescermaisdo
queo restodomundo.
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