Maio_2005 - page 92

Mesa-
Redonda
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R E V I S T A D A E S P M –
M A I O
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J U N H O
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em termosdosresultadosdaquiloque
estou aplicando. Caso contrário, não
terei condições dedar aula.Quando
as pessoas idosas mantêm um
mínimo de saúde física, de trata-
mento neuronial – com Viagra ou
semViagra – não encaram a morte
comoumavizinhança fatal,doponto
de vista de produtividade, de atuali-
zação e contemporaneidade, não
devem nada a ninguém. Claro que
há problemas graves sociais, pelos
quais passa o país, mas este é o
problema do país. Vai chegar omo-
mento em que não pode havermais
aposentadoria. Não vivo da minha
aposentadoria;elanãodáparapagar,
sequer, ocondomínio.Masusandoo
sentido dessa contemporaneidade –
que antecipa a experiência e a
vivênciaeaprojetanocenárioviável
e imediato – nesses últimos 10 anos,
entreguei-me a isso com convicção,
escrevi 5 livros, mudei ométodo de
ensino 3 ou 4 vezes – porque se
mantiveromesmométodoqueusava
há 5 anos, perco a legitimidade da
minha função. Acho que esse
problema da velhice e da não-ve-
lhice tem de ser reformulado, em
termos estruturais e históricos.
JR
–Parecequeonossocompanheiro
mais idoso é que está propondo as
coisas mais revolucionárias.
AMALIA
– Issome parece precon-
ceito ao contrário.
GALASSO
–Temos é que o admirar.
Se pensarmos na média da popu-
lação brasileira, ele é uma enorme
exceção lá em cima e sozinho...
JR
–Sim,mas por quenãopodemos
ter mais pessoas como oMário?
MÁRIO
–Ahistória levaa isso.Daqui
a 50 anos, as pessoas de 80 anos
estarão vigorosas.
GALASSO
–Mas oproblema social
é grande. A pessoa chega à aposen-
tadoria, hoje, dá graças a Deus que
chegou e pode – com aquele
dinheirinho – sustentar a família.
MÁRIO
– AAmalia comentou que
ohomem – quando fica viúvo – ten-
de a arrumar novos casamentos. As
mulheres casammenos, uma segun-
da vez. Isso também é umproblema
cultural: oexcessodepatriarcalismo.
Em 2002, de um total de 2.424
casamentosdepessoas entre60e64
anos,71% foramdehomenseapenas
29% de mulheres. No grupo de 65
anos ou mais, as proporções foram
de 84% para homens e 16% para
mulheres. Isso é do IBGE. Diz o
ditado popular que as mulheres
evitam casar duas vezes, por sabe-
rem quemudar demarido é apenas
mudar de problema. Assim como –
segundo a vozdopovo –os homens
amam com os olhos enquanto as
mulheres amam com os ouvidos.
Agora, Machado de Assis já dizia:
“A pior viuvez é aquela que anula o
casamento, conservandoocônjuge”.
Amulher deuumpassomuitomaior
porque ela vem com uma capaci-
dadedecontemporaneidadesuperior
aohomem.Apartirdadécadade60,
nahoraemqueela saiueconquistou
os direitos... A revolução mais
importante do século XX, paramim,
é a revolução feminina.
AMALIA
– Ela não saiu exatamente
porque quis. Meu quinto livro foi
lançado no dia 8 de março – dia
internacional da mulher: “Mulher e
trabalho: o desafio de conciliar
diferentes papéis na sociedade”.Um
dos problemas que fez com que a
mulhersaíssedecasapara ir trabalhar
é porque, a cada 4 segundos, no
Brasil, umamulher éespancadapelo
seuparceiro. Issonãoé sóporqueela
precisa sair; ela precisa de indepen-
dência financeira para poder viver e
deixar o seu algozpara trás. Então, a
evolução ou revolução, é quan-
titativa e não qualitativa. Seria bom
se isso fosse para um crescimento
espontâneo, porque o mercado
precisa de mão-de-obra feminina,
mas não é oque está ocorrendo; é a
necessidadeensinandoosapoapular
da pior maneira possível.
ALEXANDRE
– Quero destacar o
que o Mário disse sobre o sucesso
que está tendo com as turmas mais
jovens, porque acho isso realmente
emblemático: a capacidade do ser
humano de se renovar. Já vi profes-
sores bem mais jovens não tendo
sucesso e outros que tiveram. A
mesma coisa com professores mais
velhos. A idade cronológica tem
cada vez menos correlação com a
capacidade da pessoa. Já vi execu-
tivos de multinacionais brilhantes e
medíocres; e isso nada tinha a ver
com tempodecasa.Asociedade tem
“NAVIDA,CHEGAMOSDESPREPARADOSA
QUALQUER IDADE.”
BERTHEMORISOT
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