Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

fortalecimentodospaísesemergenteseosmecanis- mosde integraçãodoâmbitoSul-Sul, entreoutros. Reordenamento mundial e os emergentes O entendimento da economia mundial do século XXIexigeareconstruçãodatrajetóriageoeconômi- ca e geopolítica desencadeadas desde a década de 1970 e, sobretudo, a partir do fimda bipolaridade. Inaugurou-se um ciclo de rivalidade e competi- ção, na esteira da reestruturação do capitalismo, refletindo o surgimento de novas configurações de poder (ARRIGHI; SILVER, 2001, p. 30-45). Trata-se de umperíodo de incertezas quemescla forças contraditórias. De um lado, o irrealismo da estratégia expansionista dos EUA, marcada por uma tentativa de impor uma ordemunipolar condizente com suas expectativas de projeção global de poder. Contudo, as intervenções mi- litares (Afeganistão, Iraque, Líbia), a pressão sobre organizaçõesmultilaterais (ONU, OMC) e a imposição unilateral de modelos liberalizantes via instituições internacionais (FMI, BIRD), têm desgastado a posição internacional dos EUA. Em outras palavras, é exatamente a formaneoconser- vadoradessaexpansãodepoder norte-americano (e ocidental), que dá conexão lógica a eventos aparentemente tão dissociados como a crise de endividamento euro-americana, a onda de xeno- fobia na Europa e a emergência de governos de centro-esquerdanaAméricaLatina. São tensões e reaçõesdecorrentesdeumaestratégiapolíticaque recrudesceu disparidades sociais, assimetrias in- terestatais, açõesdiplomáticasunilaterais, quando não o recurso à força sem respaldo internacional ou legitimidade nacional. Deoutro, o caráter embrionáriodeumnovoorde- namentomundial se expressanamultiplicaçãode Estados soberanos, nocrescimentovertiginosode novos polos de poder, comdestaque para China, Brasil e Índia, e, sobretudo, no fortalecimentodos projetos nacionais de desenvolvimento (HOBS- BAWN, 1995, p. 251; FIORI, 2010, p. 5). Ahipótese quedesenvolvemos emoutraoportunidade éque (PAUTASSO, 2011, p. 62), os países emergentes poderão ser os grandes beneficiados do desafio soviéticoaosEUA,assimcomoopodernorte-ame- ricano foi o beneficiado do desafio alemão-japo- nês ao poder britânico. Para tanto, é possível e necessário transformar a realidade da interação no âmbito Sul-Sul numa estratégia tanto para inserção internacional quanto para influenciar o reordenamento mundial. E, dentre os polos emergentes, não resta dúvida de que a inserção internacional chinesa é a que está a provocar maiores transformações globais. As reformas chinesas e o “antimodelo” liberal A China contemporânea não é, como apontam alguns (GILPIN, 2004, p. 377), uma economia “oca”, dependente dominantemente de inves- timentos e empresas estrangeiros; tampouco, como afirmam outros (HARVEY, 2008, cap. 5), um“neoliberalismocomcaracterísticas chinesas”, frutoda restauraçãodopoder de classe capitalista baseado na superexploração do trabalho. A nova China que está a “sacudir” a economia mundial não é apenas resultado das ações do atual governo, nem da política de Reforma e Abertura (1978), de Deng Xiaoping, mas sim da Revolução conduzida por Mao Tsé-tung que encerrou o “século de humilhações” (1839-1949). AChina que aí está é a negação dos equívocos da experiênciado socialismo soviético edos ímpetos voluntaristas do período da Revolução Cultural, mas, sobretudo, a negação da agenda neoliberal Apartir de1978, as reformaspolíticas e econômicas aceleraram a entrada do capitalismo na China, que ainda mantevearetóricadeestilocomunista. O sistema comunal foi gradualmente desmantelado e os camponeses começaram a ter mais liberdade para gerir a terra que cultivam e ven- der seus produtos no mercado. Ao mesmo tempo, a economia chinesa abriu-se ao comércio exterior. Em 1 o de janeiro daquele ano, os Estados Unidos reconheceram diplomatica- mente a República Popular da China (deixando as autoridades de Taiwan), e os contactos comerciais com o Oci- dente começaram a crescer

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