Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 63 S o f i a E s t e v e s ES PM GRACIOSO – Não vamos esquecer tam- bém o ou t ro l ado da moeda . Nas contas externas do mês de fevereiro, US$ 1 bilhão entraram no Brasil como dividendos vindos do exterior, o que mostra que o Brasil também tem uma parte ativa neste processo. GUSTAVO – Sim, as empresas brasileiras apa- recem entre as maiores multinacionais do planeta. Todo ano, a UNCTAD (UnitedNations Conference on Trade and Development) rea- liza o World Investment Report, um relatório regular temático. Há dois anos, o tema foi “ As multinacionais dos países emergentes ”. Eles também fazem uma lista com as 50 maiores companhias do mundo, que hoje já conta com diversas empresas brasileiras. GRACIOSO – Um dado pitoresco é que a marca de cerveja que vai ser vendida na Copa do Mundo e que o Congresso está brigando para vetar é a Budwei- ser. Eles, certamente, acham que ela é americana, mas talvez vocês saibam que as decisões sobre o futuro da Bu- dweiser são tomadas em São Paulo pela AmBev, que é a dona da marca. MARCONINI – Pareceque todomundoestácon- tando quanto tempo que a Europa vai levar para se recompor. Mas do ponto de vista da governança, o que interessa mesmo para termos ummundo melhor? GUSTAVO – Um dos pontos mais importantes sobre a globalização mencionados pelas pessoas inteligentes que escreveram sobre ela, como o Thomas Friedman, é que esse sistema não tem piloto, não há uma entidade que tome conta desse movimento. A globalização econômica tem exatamente a mesma natureza da internet. Ela é espontânea e representa um agregado de redes interconectadas que funcionam de forma autônoma. A internet opera por meio da fixação de padrões para permitir que as redes se comu- niquem e tirem o maior proveito do seu aspecto onipresente. Neste mundo em rede, a efetiva governança se faz no sentido de se estabelecer regras e padrões de bom-senso, semter ninguém mandando no que é para ser livre. A governança internacional deve ser focadanãonoG20,mas em instituições como a OCDE (Organização para a Cooperação eDesenvolvimentoEconômico), que estabelecempadrões e convenções. SeoBrasil en- trar naOCDE, terá que assinar várias convenções sobremeio ambiente, corrupção e inúmeras nor- mas que elevariam consideravelmente o padrão da atividade econômica desenvolvida no país. Essas convenções iriam estabelecer uma agenda de reformas para o Brasil. Mas a nossa diploma- cia vê de forma diferente. Constantemente, vejo referências à OCDE como o “clube dos ricos” e que temos um caminho alternativo. GRACIOSO – O México está lá. GUSTAVO – Assim como outros países emer- gentes. É onde deveríamos estar. O G20 foi um organismo criado para resolver o problema da crise. Na época que surgiu, em 1988, fez algumas reuniões, promoveu alguns relatórios e sumiu por um tempo. Até que em 2008 foi ressuscitado numa situação diferente. Logo mais ele vai cair novamente no esquecimen- to. Já a OCDE é um organismo permanente, que monitora diversas áreas e convenções, que nasceram ali. São códigos trazidos para os Parlamentos Nacionais que os aprovam e viram leis em cada país, como deve ser no mundo democrático. OG20 não é um foro que tem natureza vaga para lidar com o problema. Para nós, o interessante seria participar do projeto OCDE. } O drama das pol í t icas ver t icais é que elas vêm junto com um trabalho poderoso de market ing ~ Gustavo Franco

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