Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

R e v i s t a d a E S P M – m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 56 } No terreno da economia, cada inovação produz uma cr ise, alguma destruição e mui ta cr iação, que faz o sistema avançar ~ E N T R E V I S T A GRACIOSO – Estamos diante de uma crise curiosa: enquanto os Estados Unidos patinam, a Alemanha parece estar se saindo bem. Os emergentes são uma surpresa agradável e o Japão continua parado. O que está acontecendo com o mundo, Gustavo? GUSTAVO – Omundo nunca foi tão rico e prós- pero. Há 300 anos, essa situação se repete, ou seja, temos umdos maiores momentos de pros- peridade da humanidade, ao mesmo tempo em que vivemos uma crise cíclica. Sempre que ocorre uma inovação financeira, ummomento como esse é registrado. Não se consegue evitar que a cada sete ou dez anos aconteça uma nova crise. Nesses períodos, aqueles vaticínios de catástrofe retornam junto com as escolas de pensamento dizendo que o capitalismo vai ser consumido por suas contradições e crises periódicas. Isso é uma bobagem que se repete. Dessa vez, o fracasso é do liberalismo. Se há uma coisa que não se pode falar sobre o pro- gresso material do planeta, é de fracasso. O progresso é o grande enredo que não devemos perder de vista. MARCONINI – Mas, desta vez, a crise poderia ser evitada com uma política regulatória capaz de impedir tantos abusos. GUSTAVO – Assim como todas as outras, essa crise vai passar. Falando com a prerrogativa de historiador que sou, isso sempre ocorreu. Depois da crise, na hora da autópsia, opera- mos maravilhosamente bem. Como médicos legistas, apontamos as causas da crise. Mas não é fácil identificar o problema quando ele está acontecendo. Muitos afirmam que, desta vez, a culpa foi da desregulamentação. Ou- tros asseguram que foi a política do governo no setor habitacional americano. Na Europa, as culpas atribuídas às políticas públicas são maiores ainda. A Grécia, por exemplo, tem uma coleção extraordinária de desatinos praticados por políticos. Como qualquer uma das 30 crises anteriores, há uma disputa pelo espólio da crise, pela teoria sobre o diagnóstico e qual ideologia saiu vencedora. Mas esta crise não tem vencedor. O vencedor é o planeta, o progresso. Esta crise é como a de 1998, cujo epicentro foi a Rússia. Ambas tiveram como ingrediente um produto financeiro derivativo, como as substâncias tóxicas armazenadas na usina japonesa de Fukushima que, por alguma razão, saíramdo seu reservatório e contamina- ram o entorno. No terreno da economia, cada inovação produz uma crise, alguma destruição e muita criação, que faz o sistema avançar. É sempre uma espécie de fracasso do bom-senso coletivo. É próprio do nosso sistema. MARCONINI – Na pr imeira década do terceiro milênio observamos a entrada abrupta da China no sistema, criando um capitalismo de Estado. Em 2008, quando tudo acontece, ela se vê forta- lecida. Agora se fala muito no fim do capitalismo, que está se transforman- do. Como você vê essa mudança? GUSTAVO –Oadvento da China pode represen- tar a vitória do capitalismo de Estado, mas pode ser também o contrário, com a demonstração de que o capitalismo de Estado não é diferente do capitalismo sem ser de Estado. O aspecto inquietante da China é o fato de que ela é uma ditadura. Essa discussão sobre a suposta supe- rioridade econômica dos regimes autoritários é antiga. No Brasil, tivemos esse debate na déca-

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