Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

SERGIO GOLDBAUM Professor da ESPM e da FGV. Sócio da GPM Consultoria Econômica. sergio.goldbaum@fgv.br Assim, os números do GTA parecem indicar que as reclamações de Ângela Merkel e Dilma Rousseff são equivalentes. Mas os grandes destaques do Global Trade Alert são a Federação Russa e a Argentina – as economias que mais intensamente recorreram às medidas de defesa e proteção comercial, desde o início da crise. A Rússia implementou 130 medidas desde a crise de 2008, das quais 33 afetam os interesses brasileiros. Entre elas a introdução de quotas de importação de carne para 2012. Na Argentina foram 116 medidas, das quais 44 afetam o Brasil, como a adoção de preços de referência na importação de tecidos. Outro grande destaque é a China, principal alvo das medidas de proteção comercial adotadas por todos os países. OGTA contou 511 medidas que afetam diretamente os interesses comerciais da China. Dessas, 151 são medidas tradicionais de defesa comercial. Ao todo, 83 países semobiliza- ramcontraas exportações chinesas.Ospaísesque mais adotaramessasmedidas foramaArgentina (com 96 medidas) e a Rússia (com 81). Orecurso a políticas de proteção comercial como forma de atenuar os efeitos de crises econômicas não é novidade. Após a crise de 30, políticas protecionistas do tipo “ Beggar thy neighbor ” (em- pobreça seu vizinho), incluindo desvalorizações competitivas, aumentos de tarifas e adoção de quotas de importação, foramadotadas pelas prin- cipais economias de então. Alguns economistas defendem o argumento de que essas políticas podem ter agravado a depressão e dificultado sua eventual superação. Outros economistas minimizam esse efeito. Ao longo da história da humanidade, a ausên- cia de instituições e de acordos internacionais capazes demediar disputas comerciais resultou em conflitos armados. No atual contexto, políticas de defesa domerca- do interno podem ser estratégicas para alguns países. Já para outros não sobraramalternativas senão políticas comerciais restritivas. Mas o aumento de medidas protecionistas, espe- cialmente aquelas não regulamentadas nos acor- dos internacionais, coloca em dúvida o poder de atuaçãodeórgãosmultilaterais, especificamente a OrganizaçãoMundial doComércio.AOMCpode enfrentar, em 2012, um difícil teste. Medidas de proteção comercial con- tra a China costumam tomar formas diversas. Alguns países bloqueiam as importações chinesas por meio de barreiras técnicas, citando padrões ambientais e de segurança, enquanto outrosimpõemcomplexosprocedimen- tos alfandegários e de autenticação O número de atritos comerciais gerados por medidas de prote- ção aumentou dramaticamente para a China em 2012, tendo recebido mais 8 medidas so- mente desde o começo do ano, envolvendoumtotaldeUS$2,28 bilhões(cercade80%amaisque no ano passado) Estatísticas demonstram que as exportações chi- nesas sofreram com a implantação de cerca de 100 medidas de proteção somente nos últimos 12 meses, tornando o país a maior vítima de “protecio- nismo comercial” ES PM m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 53

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