Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

R e v i s t a d a E S P M – m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 34 E N T R E V I S T A } A Ch i na funde a cabeça dos ana l i stas po l í ­ t icos porque e l a parece mu i to com um caso de despot i smo escl areci do ~ GRACIOSO – Esta edição terá como tema a crise mundial e os novos rumos do ca- pitalismo. Muitos apontam o excessivo imediatismo provocado pelo neolibera- lismo da Escola de Chicago como uma das causas para a crise que começou em 2008 e ainda está viva e forte. Qual é sua visão sobre o assunto? SARDENBERG – Estados Un idos, Un ião Europeia e Japão não estão bem, mas de modos diferentes. O Japão, por exemplo, sofreu um terremoto, fator decisivo para a derrubada da economia japonesa e também da economia mundial. Hoje, acredita-se que alguma parte da perda de crescimento dos Estados Unidos no ano passado foi por falta de componentes produzidos pela indústria japonesa. O Japão está saindo da crise do tsunami e até voltou a crescer. A perspectiva é que ele cresça 1,5% este ano. O problema da Europa é outro, já que está relacionado às dívidas públicas e o seu refinanciamen- to. Já nos Estados Unidos, o que ocorreu foi uma crise financeira, um excesso de endividamento do governo, das empresas e das famílias, com base em um sistema fi- nanceiro que fazia “operações alavancadas” e se revelaram extremamente arriscadas, pois estavam baseadas em papéis que não tinham a menor credibilidade. GRACIOSO – Inventaram uma palavra bonita: subprime . SARDENBERG – Exatamente. Tinha o cliente prime e o “cliente lixo”. Em vez de cha- marem de lixo aquelas hipotecas de baixa credibilidade, deram o nome de subprime , que foi empacotado e vendido várias vezes. Isso aconteceu porque os juros estavam baixos e não tinha nenhum problema você se endividar. Outro motivo foi o crescimento espetacular da economia mundial. Muitos economistas classificaram o período de 2003 a 2008, quando o mundo cresceu mais de 5% ao ano, de Anos Dourados, com cres- cimento múltiplo, juros baixos e inflação controlada. A crise não foi causada apenas pela desregulamentação financeira. Existia um ambiente muito positivo de crescimento econômico. Dizer que a culpa é do neolibe- ralismo não faz sentido, porque o mercado europeu não é neoliberal e está com uma série de dificuldades. A Europa é a região do “Regime do Bem-Estar”, que tem uma carga tributária elevada e uma ampla presença do Estado. Ainda assim não teve uma reação melhor que a dos Estados Unidos. Ela cres- ceu junto com o mundo e entrou em crise, mas se beneficiou dessa fase de crescimento, porque os governos conseguiram financiar suas dívidas a juros baixos. O problema é que essas dívidas ficaram mais caras com a elevação dos juros, além de falhas graves, falta de regulação do sistema financeiro e um erro de governo. Nos Estados Unidos, por exemplo, o governo do Bill Clinton mandou as agências hipotecárias de cré- dito imobiliário afrouxarem os critérios para concessão de empréstimos, de modo a expandir o financiamento de casas para os mais pobres. Isso foi feito e resultou num enorme sucesso. Mas exageraram no afrou- xamento das regras, o que gerou esse grande benefício, muita gente comprou casa e o setor imobiliário nos Estados Unidos cres- ceu, só que com excesso de endividamento. A regulação não foi capaz de verificar esse

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