Revista da ESPM_MAR-ABR_2012

m a r ç o / a b r i l d e 2 0 1 2 – R e v i s t a d a E S P M 31 ROBERTO SIMONARD FILHO Professor da ESPM-RJ. Uma vez descritos os dois fenômenos econô- micos mais relevantes, e mantendo o foco na economia, destacamos os dois mais impor- tantes questionamentos dos rumos que estão sendo tomados e das perspectivas aguardadas. O primeiro deles diz respeito à “cultura ren- tista” e o perigo potencial que ela traz com as crises econômicas geradas. A já citada mobili- dade dos capitais financeiros é um fenômeno típico da globalização, portanto recente, e os economistas ainda não sabem com precisão o que fazer. O que parece que está ficando claro para parcelas crescentes da população mundial, reunidas num grande movimento interna- cional denominado occupy wall street , é que a expansão do capital financeiro está concen- trando a riqueza e aumentando a pobreza. Além disso, o que se observa é que, enquanto as transações financeiras são lucrativas, o lu- cro obtido é privado. Contudo, nos momentos de crise e prejuízos, estes são “socializados” por meio de inevitáveis intervenções dos go- vernos, obrigados a evitar um mal maior pela utilização de dinheiro público. Efetivamente, a crise de 2008 nos EUA mos- trou que os investimentos financeiros eram feitos sem regras e sem controles. Em conse- quência, crescem as opiniões favoráveis a que haja uma maior rigidez por parte das autorida- des econômicas, com o objetivo de combater o excesso de especulação e de liberdade dos capitais financeiros. O segundo diz respeito ao meio ambiente. Em decorrência do enriquecimento de populações com um passado de pobreza e o consequente aumento dos seus padrões de consumo, a grande dúvida é se o planeta Terra conseguirá suportar as necessidades crescentes que a humanidade tem de matérias-primas e ener- gia, e também se conseguirá suportar toda a poluição e destruição ambiental advindas do atendimento daquelas demandas. O fato é que a necessidade de energia, seja para a produção de bens e serviços, seja pelo consumo gerado por esses mesmos bens e serviços, deverá se expandir aceleradamen- te, e como as diversas formas conhecidas de produção de energia são majoritariamente causadoras de algum dano ambiental, a hu- manidade está diante de um problema grave de sobrevivência. Fontes de energia limpa ainda são caras, o que diminui a eficiência econômica e provoca conflitos de interesses internacionais, pois a utilização dessas fontes contraria interesses consolidados. Por outro lado, os parâmetros estabelecidos de bem-estar estão ligados à capacidade de con- sumir. Assim, os seres humanos se reconhe- cem uns aos outros pelos carros que utilizam, pelas roupas que vestem, pelos lugares que frequentam, ou seja, por conhecidos padrões de consumo. Logo, se enriquecer é consumir mais e melhor e se existem parcelas cres- centes da população mundial enriquecendo, amplia-se a preocupação com a possibilidade de um descasamento futuro entre um nível de produção inalcançável para um nível de consumo incontrolável, o que poderia trazer vários problemas econômicos e políticos. Desse modo, o mundo se vê diante de proble- mas gigantescos e complicados, mas acredi- tamos que exista capacidade tecnológica para resolvê-los. Consequentemente, a solução implica, necessariamente, uma profunda mudança de conceitos. A esperança está na multiplicação das vozes que advertem quanto aos rumos equivocados. Nesse contexto, a internet já comprovou sua enorme capacidade de mobilização. Só nos resta aguardar. ES PM

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