Revista da ESPM - MAI-JUN_2007
14 R E V I S T A D A E S P M – MAIO / JUNHO DE 2007 Na arte renascentista e na pintura acadêmica, ocorrem– aqui e ali – fras- cos e garrafas, bem como a famosa e recorrente Caixa de Pandora; mas é a partir do impressionismo e do expressionismo, que veremos objetos ligados à embalagem, como rótulos, pacotes e caixas, fazendo parte de composições cubistas, assim como colagens – em Au Bon Marché, ou VieuxMarc, de Picasso, por exemplo. As modernas “instalações” freqüente- mente se utilizam de embalagens ou de seus elementos constitutivos. Um dos exemplos mais curiosos talvez seja uma interativa Caixa para guardar o Vazio, da escultora portuguesa Fer- nanda Fragateiro, exposta, este ano, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Virtualmente toda a arte do japonês Katsu Kimura, nascido em 1934, con- siste em objetos – como uma banana, ou uma fatia de queijo – transformados em caixas para armar. Uma das mais assombrosas re- lações possíveis entre embalagem e arte é a idéia de que uma mu- dança tecnológica possa ter dado origem à pintura impressionista, pois permitiu ao pintor que levasse as tintas consigo aonde e quando quer que desejasse ir, graças à invenção do tubo metálico com tampa – por LeFranc, em 1850 – substituindo canhestras bolsas de peles de animais até então usadas 4 . A arquitetura está povoada de em- balagens de todos os feitios, sendo uma das mais famosas a que foi chamada de “Caixa das Artes”, o prédio sede do MASP, na Avenida Paulista, projetado pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi. BALAIO, MEU BEM, BALAIO SINHÁ BALAIO DO CORAÇÃO MOÇA QUE NÃO TEM BALAIO, SINHÁ BOTA A COSTURA NO CHÃO. Do cancioneiro gaúcho Finalmente, a safra literária. O mais belo trecho talvez esteja em Fer- nando Pessoa, na Tabacaria: Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho, Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida. 5 Ou este outro trecho, utilizando glo- riosamente o verbo desembrulhar : De repente, todo espaço pára... Pará, escorrega, desembrulha-se... 6 D i r- s e - i a Pe s s o a o b c e c a d o por embalagens, tantas são as menções. Preterindo outras tan- tas, eis algumas: “Um dia que Deus estava a dormir E o Espírito Santo andava a voar, Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.” 7 “... e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar as minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu, não Al- berto Caeiro.” 8 GRAÇAS À INVENÇÃO DO TUBO METÁLICO COM TAMPA – POR LE- FRANC, EM 1850 – SUBSTITUINDO CANHESTRAS BOLSAS DE PELES DE ANIMAIS ATÉ ENTÃO USADAS . A magia das embalagens
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