Revista da ESPM - JUL-AGO_2007
Berlusconi, na m i n ha opinião, o primeiro h omem político g l ob al puramente brasilianizado. Há mu i– tas explicações simplistas para Ber– lusconi, sobretudo na França, onde ninguém nunca o entendeu; d i z i am que se tratava de um manipulador, um homem que era proprietário de redes de TV, portanto influenciava todo mundo e - graças à televisão -tomou o poder. Só que não é tão simples. Se se observarem os d a– dos eleitorais na Itália, Berlusconi venceu as eleições de 94 quando só tinha uma parte das televisõe s do seu lado. Depo is de tornar-se primeiro-ministro é que adqu i r iu o controle dos meios de c omu n i– cação e da TV italiana. No entanto, em 1996 ele perde as eleições e também a televisão estatal. Qu a n d o retorna ao poder, em 2000 não mais detém o controle total da mídia, e ainda assim ganha as eleições. Ele ainda governa, tem o poder, te m o controle da mídia, mas, no an o passado, perdeu as eleições. Seria redutivo dizer que, por causa da TV e fazendo manipulações aqui e ali, as coisas vão andar de algum modo. Berlusconi é mais do que isso: em primeiro lugar, é uma estrela, é o carnaval ideal. C omo homem mais rico da Itália, é o consumidor ideal: possui sete villas, só na Sardenha, e desloca-se de uma para outra, em puro hedonismo. Todo italiano olha para Berlusconi e sonha - porque ele c omp ra tudo que quer, pode possuir tudo, até o futebol, pois é o dono do clube M i l a n. Não se trata mais de um homem político, mas tem toda a dimensão da arena; é uma estrela do carnaval, nada mais e nada menos. As s im mesmo, na sua plataforma política, vai insistir muito na insegurança (embora isso seja menos percebido no exterior, por ser menos folclórico, menos interessante). Fala da luta contra o crime, do policiamento urbano, promove uma verdadeira psicose da insegurança, antes me smo do dia 11 de setembro; após o 11 de setembro, torna-se aliado de Bush , é o homem que vai ao Iraque... Eis os dois pólos - o pólo do carnaval e o pólo da segurança (e, portanto , da insegurança), e eu, c omo homem político, lhes forneço uma soluçã o para isso. Isso se generaliza. Sarkozy não é mais apenas um político francês - mas a evolução disso. Ele não faz parte da clássica elite tecnocrática francesa, não cursou a ENA (Escola Na c i onal de Administração), ne m nenhuma das faculdades de prestí– gio. É alguém que chega ao pode r d i z endo: eu não sou essa coisa que está aí. A velha elite racional - d a qual falávamos - não tem nada a ve r c om Sarkozy. Sarkozy é a evolução sob forma de estrela. Continua a ser um político, mas conseguiu a sua transmutação em estrela. Ele tem mais amigos entre gente do show business do que outros políticos. Após as eleições, ele esteve a bordo do iate do seu ami go bilionário, V i n c e nt Bolloré, e os j o r na is na França ficaram escandalizados. Não entenderam nada, porque o público ama essa qualidade das estrelas, ama os iates e as representações de tudo isso. Ao me smo tempo, Sarkozy tran– sita pelo pólo da segurança: tough against crime, tough against the causes of crime (foi o Blair quem lançou isso, me smo s e n do um h omem de esquerda). É interes– sante o b s e r v ar essa c l i v a g e m, c o n f e r i da den t ro da ma is p u ra brasilianização. Na verdade, não tenho nenhuma conclusão a o f e r e c e r. G o s t a r ia de poder discutir mais um pou co as conseqüências publicitárias e c omu n i c a c i o n a is de tudo isso. C o mo m i n ha formação é ma is política, vejo mu i to c l a r ame n te as conseqüências políticas desses fenômenos todos.
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