Revista da ESPM
R E V I S T A D A E S P M – janeiro / fevereiro de 2011 80 que a classe C emergente tem celular e computador, mas frequenta a lan house e está noOrkut. OOrkut, por exemplo, lá fora, praticamente não existe. MÁRIO RENÉ – Os primeiros shop- pings – como o Iguatemi, que foi inau- gurado em 1966 – tinham lojas e dois cinemas. Quais serviços foram sendo incorporadosatéchegarmosaoformato atual? E qual é o limite desse formato? Estive recentemente na China comum grupodeprofessoresevisitamosalguns shoppings fantásticos. Imagino esses lugares como grandes centros de lazer, emqueaspessoastambémpodemfazer compras. Como vocês enxergam isso? Qual a direção? Onde vamos parar? PASTORE –Noesforçodecriarfluxode consumidores para o shopping. GEORGE – Concordo, mas em função dapautaqueéfornecida.Pesquiseimui- tonosentidodecomofalarcomessepú- blico, que vive com aquele aparelhinho namão e faz do Twitter omaior veículo de comunicação de ofertas comerciais. PASTORE –Que é questionável. GEORGE –Hojeobrasileiroéconsidera- doomaiorconsultoron-linedomundo, o segundo no Google. Acredito que o site deva ser uma extensão do mall com seus produtos, tendências e oportuni- dades, porque o mall hoje passou a ser um status . Ir ao shopping significa ter status ,jáqueeleéumdefinidordemoda, tendências e ações. GRACIOSO – George, você está de- finindo o mall como uma arena de comunicação, que lança moda e cria marcas. Amelhor maneira que o shop ping tem para se comunicar com seu público é ele próprio. A comunicação é feitaatravésdasvitrines,davidadoscor- redores, dopúblico, doambiente criado, do aproveitamento das grandes datas promocionais.Issotudoécomunicação. KELLER –Nãoconcordocomaquestão doarcondicionado.Nossosprojetosnão vão ter ar condicionado. Na costa oeste americana, os maiores shoppings não possuemar condicionadonos corredo- res. O fundamental do shopping ainda continua sendo o mix adequado ao pú- blico. Emcimadesse focoéquevocêvai fazer todooplanejamentodo local. Vou construiraR$1,3milometroquadrado. Nenhum shopping grande consegue construir por esse preço. E vou dar de retornoaomeulojistaumalocaçãomais barata, mas nempor isso vou deixar de oferecerqualidade.Dentrodomeufoco nas classes C e D posso oferecer esse tipo de retorno. GEORGE – O Fashion Mall, no Rio de Janeiro, não temar condicionado. SIMONSEN –Oconfortooferecidopelo projeto arquitetônico não é o conforto térmico de uma super máquina de 22 o , mas uma temperatura razoável, que é suficiente para o mix e o consumidor esperado. Então, você está trazendoum públiconovo,quenãoquermaisumpiso deR$100ometro,elevadoresdebronze oulatãopolido.Oconsumidorobservae sabeque alguémestápagandopor isso. NABIL – No passado, ninguém imagi- nava que teríamos academias de ginás- tica ou ainda serviço da Polícia Federal. Hoje, todos os segmentos de rua estão dentro de shopping center, até posto de gasolina. Atualmente, temos empreen- dimentosmultiuso,comescritórios,áre- as residenciais e, daqui a pouco, vamos integrar também o clube de golfe. São projetos cada vez mais renovados para trazer todos os segmentos da sociedade que pratiquem shopping center diaria- mente.Essaéumamudançaimportante, quenãovaimaisparar,porqueaexigên- cia do consumidor é eterna. MÁRIO RENÉ – Sugiro nesta segunda etapa que foquemos dois pontos. O primeiroécomosecomunicar comesse jovem, maluquinho e interconectado. Tambéméimportantefalarsobreaima- gem dos shoppings como verdadeiros templos de consumo, quase religiosos. Ainda como último ponto: o que falta colocar dentro do shopping? GEORGE – Todos os shoppings que eramdo Sendas têmuma igreja dentro deles.NoConjuntoNacional, emBrasí- lia, temigrejaeatéuma lojadeprodutos religiosos, hámais de dez anos. MARINHO –OMorumbitambémtem. MÁRIO RENÉ – Os senhores enca- ramo shopping como algo relaciona- do, metaforicamente, a uma catedral do consumo? MARINHO – É claro que sim. Mas para umconsumoabrangente.Nãoestamos falandodo consumode coisas. Oshop- ping é um local de consumo de signifi- cados,queestãopresentesemprodutos, roupas e até encontro entre pessoas. Cada vez mais o shopping ganha um caráter de entretenimento, não só com ocinema, oparquedediversõeseaárea infantil, mas o próprio local. MÁRIO RENÉ – Quero citar umartigo escrito pelo filósofo Gilles Lipovetsky para uma ediçãode luxoda revista Épo- ca , comentando que existe muita gente quefaladoshoppingcomoumambiente mágico, uma espéciede sacralizaçãodo universo das marcas. Nesse contexto, o ato da compra corresponderia a uma espécie demissa tal é a sua semelhança com o rito de redenção que reforça o sentimento do indivíduo de pertencer a umacomunidadedefiéis. Elequestiona se o luxo seria a nossa última religião e depois rebate dizendoque não estamos perante relíquias santas, que é menos uma veneração emais uma diversão. GEORGE – É um templo do lazer, por- que comprar é um lazer. É um templo
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx