Revista da ESPM
R E V I S T A D A E S P M – janeiro / fevereiro de 2011 74 MÁRIORENÉ –Aqui, na ESPM,mui- tos profissionais lidamcomo varejo e, como o shopping center é um centro de excelência, esse é um assunto que deve interessar a muita gente. Além disso, todos somos consumidores. Idealizada pelo Professor Gracioso – ex-diretor-presidente daESPMe atual presidente do Conselho Editorial –, a pauta“Shoppingcenter, sonhode con- sumooucatarse coletiva” é riquíssima. GRACIOSO – O shopping center no Brasil tem uma história bonita de algumas décadas, sendo que foi uma das últimas modalidades do varejo a fincar raízes no País. Esse tema sugere algumas interpretações curiosas a res- peitodo shopping e, principalmente, do comportamento do consumidor. Para o brasileiro, o shoppingémaisdoqueum lugar de compras. Muita gente vai ao shoppingpormilmotivos,inclusivepara comprar.Umacoisaquemeintrigaéque a própria origem do shopping no Brasil não é aquela típica do varejo, porque as grandesincorporadorasqueiniciaramo negócio têmraízesmuitomais no ramo imobiliário. Issoé curioso. Evidenteque a cabeça desses profissionais mudou com o tempo, mas eu diria que a razão pela qual se lançaramnessenovomun- dofoiparalucrarcomaatividadeimobi- liária implícita no shopping, deixandoo varejo para segundo plano. Estou certo nesta interpretação umpouco crítica? NABIL – O primeiro empreendimento no País foi inaugurado em novembro de 1966, com 75 lojas e mais de 1,6 mil funcionários trabalhando dia e noite. Não existia praça de alimentação e era, efetivamente, um local para compras. Na época, as pessoas humildes tinham vergonha de entrar nesse estabeleci- mento. Quatro anos depois, ele dobrou de tamanho e foi a partir da década de 80 que iniciou-se o grande boom da indústria de shopping centers. Sobre a questão imobiliária, entendo que os primeiros empreendimentos focaram esse aspecto emuitos lojistas hoje acre- ditam que ainda é um negócio muito mais imobiliário do que de compras. Bastaverocontratoqueo lojista fazcom o shopping: se em algummomento ele precisa deixar o empreendimento por algum motivo, há uma cláusula que estabelece o pagamento demulta de 20 aluguéis. Essa relação tem de ser cada vezmaispróxima, jáquenãoexisteem- preendimento sem lojista, umdepende do outro. SIMONSEN – O primeiro shopping foi um empreendimento imobiliário do Alfredo Matias, que começou com uma visão imobiliária para aquela área doIguatemiqueeraafastadaedesnuda. Outro empreendimento bem imobiliá- rio foi o JardimSul, que era afastado de tudoenasceuparapolarizar as grandes áreas do empreendedor. MARINHO – Isso acontece. Recente- mente, o Shopping Jardins foi criado em Aracaju para ancorar um empre- endimento imobiliário. Mas estamos vivendo umponto de virada da indús- triade shoppingcentersnoBrasil.Com amultiplicaçãodos empreendimentos, essa balança – que sempre pesou a fa- vor dos shoppings e contra os lojistas – estámudando.Osbons lojistaspassam a ser valorizados e os bons shoppings passam a negociar de outra maneira. Tudoque seviveunomundodos shop pings até agora será, no futuro, visto comoumaetapapreliminarnahistória do segmento no Brasil. KELLER – Tenho uma visão menos assertiva. Como o Nabil falou, não existiriam shoppings se não fosse o pessoaldovarejoevice-versa.Esseéum processo de simbiose que vai continuar acontecendo. A indústria de shoppings já está passando por uma mudança de foco. Na minha empresa, por exemplo, somos três sócios – um do setor de mi- neração e outros dois do setor bancário. Juntosvamosbuscarnovasoportunida- des, porqueoBrasil hojeéumpaísonde se pode sonhar com novos desafios. Ao montarmos a empresa, nosso foco foi construir pequenos shoppings em vez de investir milhões num só projeto. Criamos uma estratégia comercial e investimosempesquisasparaimplantar algo emtornode 30 empreendimentos, shoppings de vizinhança com 10 a 20 milmetrosdeABL(ÁreaBrutaLocável). Nos próximos anos haverá um grande fervor nesse sentido, porque implantar grandes projetos demanda tempo e um risco maior. Assim, preferimos investir emdez projetos de R$ 20milhões. MARINHO – O Brasil de hoje não é igual ao de ontem. Uma pesquisa feita pela ABRASCE (Associação Brasileira de Shopping Centers), há dois anos, mostrouque 15%dos consumidores de shoppingcentersnoBrasilpertenciamàs classes A e B, ou seja, o Brasil construía shoppings para uma parcela diminuta da população concentrada nas gran- des cidades. Com esse ressurgimento econômico e o crescimento da massa de consumidores, o que temos agora são shoppings de diversos tipos, mas não vemos uma diversificação muito grande, oqueseriamuitosaudável para a indústria. Temos, segundoaABRAS- CE, cerca de 700 shoppings no País. Já pelas contas da ALSHOP (Associação Brasileira de Logistas de Shopping), são quase 800 no Brasil, enquanto os Estados Unidos têm 40 mil. SIMONSEN –Essaéadiferença.Vários indicadores mostramque o Brasil é dez vezes menor que os Estados Unidos. Quando se pega por número de shop ping, essa diferença é de 100 vezes. GEORGE –Uma diferença básica é que no International Council of Shopping Centers (ICSC) a definição do termo
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