Revista da ESPM

janeiro / fevereiro de 2011 – R E V I S T A D A E S P M 39 mente as distâncias e as temporalidades a ele as- sociadas. Bauman, em seu texto “Comunidade” (2001), analisa o redimensionamento do espaço público diante do consumo. Na metrópole, os impactos dessa postura são arquitetonicamente definidos: o encontro coletivo é dado pelo con- sumo, não nas praças e ágoras, mas nos templos de consumo – espécie de “realidade virtual”, capaz de prover equilíbrio quase perfeito entre a satisfação, a liberdadeea segurançados cidadãos. E o mercado adquire o status de show-room de experiências, empacotadas para consumo self (ou shelf ) service oupara delivery , oferecendoaos con- sumidores o sentimento de identidade comum entre as diversas comunidades. Canclini (2005, p. 59-73) propõe que “o consumo serve para pen- sar”noespaçodamultinacionalizaçãodemarcas e produtos e do imaginário multilocalizado da televisão e da publicidade, que regem o tempo. O início da era moderna, marcado entre ou- tras grandes inovações pelo surgimento do trem e pela utilização do ferro e do vidro nas construções arquitetônicas das megalópoles, trouxe mudanças significativas nos panoramas e na estruturação das relações humanas com o trabalho e o lazer, ineditamente acrescidos da sensação de velocidade – o fast . Nas cidades modernas, a metrópole, mistura híbrida de passado-presente-futuro sincronizando tempos e espaços, domina como totalidade, como forma fechada e organizada, localizada e localizável. Já no planejamento urbano pós-moderno, o incontrolável caos trabalha com o fluido e com o aberto, com a desestrutura e com a anarquia, com uma eterna corrente de mudanças que se concentramemplanos de larga escala, racionais, austeras, funcionalistas e internacionais. O es- paço é moldado para fins estéticos, atemporais e belos, e comerciais: “o passado, o futuro: ele pertenceà superfíciedomundoeéplasmadopela mobilidade dos conflitos, pelo consumo”, pois “a cidade não tem mais portas e a metrópole não se sabe onde começa e onde acaba”, pois tudo é interpretado e editado pelo “video-scape”, uma acumulação de imagens que, em série, transformam o real em uma novela virtual de “videoclasses, estratificações videoétnicas, miscelâneas culturais e visuais, novos guias do comporta- mento urbano, design de prestígio, videogramas etc.” (MASSIMO, 1990, p. 13-14; 51-52), entrelaçando panora- mas virtuais com códigos cotidianos dos pano- ramas visuais que se processam nos ambientes citadinos, encadeando paisagens eletrônicas e suas réplicas virtuais. Eoagora?Nesseuniverso tecnologicamente ima- gético, o agora é um permanente fastforwarding (FFwd) – uma aceleraçãodos padrões rítmicos de imagem e de som em cuja velocidade se quebra o espaço e o tempo para se atingir a iconoclastia e a simultaneidade. Nesse sensorium fecunda a cultura fast-food. Onovo padrão do consumo Versão histórica do que Fernández-Armesto (2004, p. 315-320) chamou de “comida de con- veniência atual”, o conceito de fast-food existe há séculos enquanto refeição que se faz fora de casa. Tanto na Antiguidade quanto na Idade Média, vendedores de rua ofereciam refeições caseiras quentes e prontas para comer. Com os processos industriais, a grande mudança foi no ritual de se alimentar, individualmente e em movimento, no ritmo da nova temporalidade. A expressão fast-food surgiu nos Estados Uni- A bolsa de valores “24 horas” cria novos ritmos de socialidade. Na polí- tica, o Estado muda seu eixo centralizado para umoutrouniversal trans- nacional ou trans-social, um cosmopolitismo di- plomáticonoqual asem- presas multinacionais são as embaixadoras dos relacionamentos e os marcos das novas conquistas territoriais.

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