Revista da ESPM
R E V I S T A D A E S P M – janeiro / fevereiro de 2011 38 Nessa ampla “praça interbairros” aparente- mente pública – porém com normas rígidas de frequência –, os cidadãos são todos os consumidores de imagens, produtos e serviços que circulam, vindos de perto ou de longe, para exercer a socialidade: passear, se divertir, relaxar, “flanar”, se encontrar. Ou para peregri- nar, em novas diásporas, buscando consumir e assim pertencer, votar, opinar, celebrar e participar – um simulacro de cidadania na cidade simulada. O papel sociocultural que os shopping centers exercem como organizadores de processos eco- nômicos, ditadores de tendências e ritmistas do comportamento contemporâneo tem formado, desde a sua existência, uma civilização “que cresceu dentro do shopping”, vivenciando ou acompanhando essa cultura e sua compres- são de tempo e de espaço: tudo resolvido na mesma hora em um só lugar, modificando o roteiro dos deslocamentos e reestruturando as temporalidades, acelerando-as. Fast, fast forwarding, fast-food Mike Featherstone (1999), anuncia o descentra- lismo e a compressão do espaço e a diminuição das fronteiras com o surgimento das cidades mundiais geridas por atividades financeiras e comerciais e pela indústria cultural, e com a glo- balização do capital. O tempomodifica-se como horário global unificado, e a bolsa de valores “24 horas” worldwide non stop cria novos ritmos de socialidade. Em termos políticos, o Estado muda seu eixo centralizado para um projeto universal transnacional ou trans-social, um cosmopolitis- mo diplomáticono qual as empresasmultinacio- nais são as embaixadoras dos relacionamentos e os marcos das novas conquistas territoriais. Nas palavras de Köpytoff e Hanners (1987, p. 10), vive-se um ecumenismo global, uma “religião de interação e intercâmbio cultural persistentes”. O destino provável desse processo é uma compressão cada vez maior de tempo e de espaço, encolhendo o mapa do mundo e relativizando as medições de tempo conhecidas – desestruturando as escalas capitalistasdevalor e fazendo ruirmuitos horizontes tidos como certos, agora voláteis, futu- ramente novas auroras boreais do consumo e da produçãomidiáticos.Poisalémde“planoeplenode coisas” (CARDOSO, 1989, p. 359), estemundo tem profundidade e abertura, que altera permanente- O redimensionamento do espaço público, dian- te do consumo, toma uma postura arquiteto- nicamente definida ao encontro coletivo, uma espécie de “realidade virtual”, capaz de prover equilíbrio quase perfeito entre a satisfação, a li- berdade e a segurança dos cidadãos. Getty Images
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