Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010
setembro / outubro de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 63 WAGNER GUTIERREZ BARREIRA Sócio-diretor da .TXT Editores Associados. e-mail: wagner.barreira@txt.net.br Mas, prossegue o documento, se um novo modelo (ou modelos) pode ser encontrado, é difícil dizer o que poderá vir a ser. “A maioria das organizações noticiosas – novas ou antigas – estão se tornando operações de nicho, com foco mais específico, com marcas e recursos mais reduzidos, necessariamente, em termos de ambição.” O jornalismo com que estamos acostumados ganha dinheiro a partir de operações sociais. Os classificados, por exemplo, presumem que leitores que compartilham a mesma leitura têm interesses complementares, como comprar ou vender um carro. A publicidade tambémprocu- ra grupos sociais homogêneos quando anuncia seus produtos. O ciclo se fecha compessoas que assinam ou compram uma revista ou jornal em banca e ajudam a pagar a conta. Com esse dinheiro, os jornais podem mandar um correspondente para acompanhar os mo- vimentos de tropas no Afeganistão, ou casos de corrupção na prefeitura, ou mudanças na direção das ruas. Nas palavras do relatório, as publicações “ajudam a monitorar a vida cívica”. A dar voz ao que, desde o começo do século 20, se conhece como “opinião pública”. Para os autores de State of the News Media , “esse modelo está ruindo”. De um lado, a Internet quebrou o modelo de remuneração. Os classificados online, como o Craiglist, são infinitamente mais eficientes do que buscar oportunidades num calhamaço de papel jornal no fim de semana. Os anun- ciantes, quando não se aventuram na criação de seu próprio conteúdo, procuram sites ultrassegmentados, onde acreditam existir um volume maior de pessoas interessadas em seus produtos. Por fim, o modelo de conteúdo grátis sim- plesmente não fecha a conta de uma empresa jornalística. Fazer jornalismo de qualidade exige dinheiro. Muito dinheiro. (Além de ética, princípios, inteligência, textos apai- xonantes...) Não por acaso, o que faz sucesso na Internet quando se fala de jornalismo são os comentadores de notícias. Blogueiros que desfiam um interminável blá-blá-blá diário, tomando por base o que outras em- presas apuraram e publicaram. Se as empresas tradicionais entrarem em colapso, os comentadores ficarão sem ter o que falar. O que esperar de um futuro em que o famoso “quarto poder” se mostre tão debilitado? Ninguém duvida que a imprensa é um esteio da democracia, pelo menos desde que Thomas Jefferson, o principal redator da Constituição dos Estados Unidos e terceiro presidente americano, proferiu uma de suas frases mais famosas – “se fosse deixado a mim decidir se deveríamos ter um governo sem jornais ou jornais sem governo, não hesitaria um instante em preferir a segunda hipótese”. Os governos mudam, tal como o jornalismo. Talvez nunca numa velocidade tão estonteante como a que observamos agora. O jornalismo, claro, vai sobreviver. Na pior das hipóteses, porque não existe nada, nenhuma instituição, nenhum novo modelo, capaz de substituí-lo na função de cão de guarda da democracia. Como toda atividade humana, nós jornalistas nos nutrimos de nossas próprias imperfeições e evoluímos comelas. Omesmo Jefferson, que fez sua profissão de fé na liberdade de expressão, tem outra frase, um pouco menos conhecida: “ Os anúncios contêm as únicas verdades que de- vem ser levadas num jornal ”. ES PM
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