Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010
setembro / outubro de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 57 LEONARDO MANCINI ChefedoDepartamentodeJornalismodaESPM-Rio. OCTACILIO FREIRE Diretor da Cajá – Agência de Comunicação. ES PM NOTAS 1. No livro A imprensa e o dever da liberdade (São Paulo, Contexto). 2. A versão do código de ética defendida pela Federação Nacional de Jornalismo pode ser encontrada em seu site, www.fenaj.org.br 3. “What is journalism? Professional identity and ideology of journalists reconsidered” , London, Thousand Oaks, 2005. 4. Projeto Editorial de 1981, disponível em http://www1. folha.uol.com.br/folha/conheca/projetos-1981-1.shtml (em agosto de 2010). 5. Por essa lógica, o trabalho do editor é jornalisticamente justificado. 6. L’emprise du journalisme. In: Actes de la recherche em sciences sociales. Vol.101-102, mars 1995. 7. Inclusive, cada vez mais as fontes publicam os furos antes do jornal. Um exemplo é o caso da seleção holandesa que divulgou, pela conta de Twitter de seu treinador, a escala- ção para a final da Copa do Mundo de 2010. Fonte: http:// cbn.globoradio.globo.com/editorias/esporte/2010/07/11/ SELECAO-HOLANDESA-DIVULGA-ESCALACAO-PARA- FINAL-PELO-TWITTER.htm (acessado em agosto de 2010). 8. Pierre Bourdier diz que a autonomia de um repórter pode ser medida pela: * Concentração do mercado jornalístico (quanto menos possíveis empregadores, menor a autonomia); * Linha editorial do jornal (se mais comercial ou mais intelectual); * Posição dentro do veículo (quanto mais notável ou mais alto na hierarquia, mais importantes são as garantias estatutárias); * Capacidade de produção autônoma de informação (vários são dependentes viscerais de assessorias ou posições oficiais). 9. Pode-se argumentar que um repórter trabalhando de casa é mais autônomo ou menos comprometido, mas o limite reside na contradição entre interesse pessoal e inte- resse público. Até onde um profissional sem independência financeira completa nem proteção institucional ou estatutária pode ser considerado autônomo? Ou quantasYoani Sánchez e Judith Torrea existem e por quanto tempo elas resistirão? 10. Em seu Manual de Assessoria de Imprensa, disponível em http://www.fenaj.org.br/mobicom/manual_de_assesso- ria_de_imprensa.pdf (em setembro de 2010). 11. No seminário “Caminhos da filosofia: ética, política e metafísica” , no Centro Cultural do Banco do Brasil, em fevereiro de 2009. Há ainda um último conceito que deve ser anali- sado e sobre o qual, para muitos, repousa a maior diferença entre as duas práticas: a ética jornalística. Segundo o argumento inicial, repórteres e asses- sores teriam éticas distintas por terem objetivos profissionais diferentes. Esta afirmação remete, na verdade, a uma questão anterior: há éticas particulares ou apenas uma ética geral? DeacordocomoProfessorCarlosNougué, 11 “existe apenas uma ética e que vale para todos os homens de todas as épocas e lugares; ética geral da qual derivamsuas aplicações positivas e práticas. Oque não invalida a existência de uma ética jornalística, desde que esta seja uma concretização particular e prática daquela ética geral. “Desta forma, pode-se falar de uma ética própria da profissão de repórter e outra da de assessor de imprensa, se as entendemos como concreções po- sitivas da ética jornalística como um todo, a qual, como vimos, já é uma concreção positiva da ética geral da humanidade.” Considerandoessepanorama,vemosqueosexercí- ciosda reportagemedaassessoriade imprensa têm mais aspectos comuns do que distintos. As duas práticasderivamdeumamesmamatriz ideológica, o jornalismo, e estão sujeitas às mesmas contradi- ções e limites éticos e profissionais. Há, sem dúvida, diferenças nas abordagens co- tidianas. Na busca da notícia, por exemplo, aos repórteres seexigeque revelempublicamente todas as informações obtidas. Ao assessor de imprensa, poroutrolado,permite-seaomissãodealgunsfatos ou dados, no interesse e na defesa do assessorado. Entretanto, em nenhum caso é permitido faltar à verdade, sob pena de perda de credibilidade e confiança dos leitores ou dos interlocutores. Conclui-se, portanto, que a discussão entre re- pórteres e assessores nada mais é que uma briga entre irmãos, que disputam entre si quem é mais legítimo. Repórteres e assessores de imprensa são jornalistas, que se diferenciam, mais do que tudo, pelo local de trabalho, mas que são norteados pela mesma matriz ideológica. ES PM
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