Revista da ESPM - SETEMBRO_OUTUBRO-2010

setembro / outubro de 2010 – R E V I S T A D A E S P M 55 Odiscursodaautonomiaou independência jorna- lística, por sua vez, é, talvez, o menos sustentável quando confrontado coma prática. Qualquer tipo de interferência que não tenha motivação pura- mente jornalísticapodeser consideradocontrárioà ideologiaprofissional.Doisexemplos fáceis, emais raros em jornais sérios, são a interferência comer- cial e a orientação editorial dada pelo controlador acionário ou político. 5 Sobre esse ponto, o Prof. Pierre Bourdier 6 afirma queograudeautonomiadeumveículo jornalístico pode sermedido pela parte de sua receita que tem origemempublicidadeouemajudadoEstado (em forma de publicidade, propaganda ou subvenção). Mais livre será aquele que depender menos do governo e do mercado. Ora, nosúltimos anos temos vistoquea circulação dejornaiscaiuvertiginosamente,tornando-oscada vez mais dependentes de verbas publicitárias pri- vadaseestatais.Damesma forma, asmudançasna estruturadomercado têmfeito comqueonúmero de periódicos diminua ano a ano, aumentando a dependênciados repórteres comrelaçãoaos locais onde trabalham. Outra forma de interferência na prática jornalística, esta muito mais sutil, é o clamor público, que influencia na pauta e no dire- cionamento das apurações. Já o imediatismo, a necessidade de noticiar “em tempo real”, de preferência antes da concorrência, se por um lado justificou historicamente a exis- tência do jornal, por outro, tornou-se omaior dos desafios enfrentados pelos veículos, atualmente. Os jornais surgiram, dentre outros motivos, para divulgar as novidades (daí o termo news ), transformando-se em produto essencial, em um ambiente onde não havia outro modo de tomar conhecimentodosacontecimentosquenãofossem os meios informais. Em tempos de Twitter, Facebook e afins, é cada vez mais difícil encontrar furos de reportagem e matérias exclusivas. 7 Mais ainda, na ânsia de pu- blicar rapidamente as informações, os repórteres incorrem, comfrequênciacadavezmaior, emerros primários, tantodeapuraçãoquantodeortografia. Dessa forma, seconsideramoso repór- ter como o profissional cuja função é coletar, redigir, editar e publicar infor- mações do cotidiano para a posterior publicação em órgãos de imprensa (qualquer que seja o meio), temos de assumir que: Todo repórter defende o interesse do veículo de imprensa onde trabalha; Oqual por sua vez está comprometido com os interesses do seu público leitor e limitado, em certo grau, pelos inte- resses de seus principais anunciantes ou investidores; Todo veículode imprensa segue orien- tação editorial, formal ou não, e, por- tanto,orepórterdeveaelasubmeter-se; } É quase sempre impossível atingir a neutralidade ab- soluta. Ao contrário, isso é raramente factível. Existem, na realidade, descrições mais neutras, ou seja, mais objeti- vas que outras; de onde se deduz que a neutralidade é uma quimera, mas aproximar-se de neutralidade não é. ~ F olha de S. P aulo

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