Julho_2002 - page 77

Revista daESPM – Julho/Agosto de 2002
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Outro aspecto importante decorren-
te da relativização do conceito atual da
idéia de responsabilidade social é a do-
minação. Dominação vem a ser a pro-
babilidadedeencontrarobediênciaaum
mando qualquer.
ConformeWEBER (1996), os tipos
purosdedominação legítimapodem ser
classificados em três pontos fundamen-
tais, cujo foco central é a conquista da
obediência, a saber:
a) consideraçõesutilitáriasdequem
obedece;
b) costume;
c) afeto: inclinação pessoal.
É bem por isso que não há uma rea-
ção contrária ao conceito emanado de
forma racional pelos interessados que o
construíram. Para que a legitimação do
conceito se amealhe para aqueles que
visem estudá-lo, então, criam-se insti-
tutos e uma série de normas de enqua-
dramento daquilo que se denomina res-
ponsabilidade social. O quadro 2 apre-
senta, demodo esquemático, a dinâmi-
ca de obediência:
gica), fogemaopadrãoestabelecidoou
esperado pela empresa? Ainda com
baseweberiana, admitindoquecompe-
tência está ligada ao fiel atendimento e
cumprimento do que a burocracia exi-
ge, ter-se-ia criado o “incompetente
social”, isto é, o opositor ao modelo
vigente?
3.1.3–Solidariedade
A discussão inicial do termo s
oli-
dariedade
se dá com Durkheim. De
acordo com esse pensamento, houve
uma passagem de sociedades simples
(comunidades) para sociedades com-
plexas. As primeiras são baseadas em
laços de sangue, parentesco, religião
etc. Há solidariedade na comunidade
quando a participação de cada pessoa
contribui para o todo. Na sociedade
complexa existem as instituições. O
funcionamento das instituições de
modo complementar é que irá gerar o
efeito da solidariedade.
A imagemquenormalmen-
te se tem com relação à
solidariedade,novamen-
te, está ligada com atos
debenevolência.Semen-
trar no mérito do julga-
mento, o fatoéque soli-
dariedade expressa
umacondiçãodeequi-
líbrio entre os atores
docenáriosocial.Sem-
prequeháumdesarran-
jo nos pesos, participa-
ção e, sobretudo, na
integraçãodestesatores
em tornodeobjetivoscomuns,
háuma rupturae terminaaso-
lidariedade.
Um trabalho muito inte-
ressante para se analisar foi
realizado por LEITE (2000),
onde a autora descreve a pas-
sagemde
status
da cidadedoRiode Ja-
neiro de capital do Brasil, em seguida
para cidademaravilhosa e, atualmente,
para se transformar numa cidade peri-
gosa. Conforme descreve VENTURA
(1994), oRiode Janeiro se transformou
na“cidadepartida”,quenapráticaéuma
visão apregoada pela imprensa em ge-
ral de uma absoluta impossibilidade de
convivência entre omorro e o asfalto.
A divisão não se restringe somente
no campo visual do asfalto e domorro.
Ela émuitomais enfática e, aomesmo
tempo sutil, quando vista da óptica da
divergência nítida de dois pólos ideoló-
gicos.SegundoLEITE (2000), aprimei-
ravisãoécompostapeloaparatopolici-
al, parte da mídia, uma boa parcela de
políticos e pela classe média abastada
da cidade. De acordo
Quadro2–DinâmicadaDominação
Obediência+BasesJurídicas=LegitimidadedaDominação
Como foi dito anteriormente, a ação
social é de essência racional e de apa-
rência afetiva.Ao se aliar à ação social
com a outra idéiaweberiana, a domina-
ção, percebe-sequeesta tambémestá li-
gada ao afeto, pelo menos aquela pro-
pagada via mensagens ao público inte-
ressado.
Um dos fenômenosmais arraigados
atualmente é o do voluntariado. O vo-
luntário é aqueleque, emúltima instân-
cia, obedece ao
status quo
porque reco-
nhece, racionalmente, avalidade e legi-
timidade das normas existentes e acre-
ditam e aceitam que, no caso de trans-
gredirem, estarão sujeitos a algum tipo
de sanção formalmente estabele-cida.
Mas existe algum tipo de sanção para
aqueles que, seja por ato volitivo (não
aceitam ser voluntários quando são
“convidados”), seja por negação ao
voluntariarismo (por convicção ideoló-
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