RESPM JUL_AGO_SET 2017
julho/agosto/setembrode 2017| RevistadaESPM 83 N os anos 1970, quando eu, economista, cons- truía uma respeitável carreira como consul- tor financeiro de grandes corporações no Brasil, globalizaçãonão era umtermousual. Mas já apontava no horizonte como uma possibilidade real e parcial. Em plena Guerra Fria, países comunis- tas não estavamnos planos do grande bloco capitalista. Muros caíram, relações políticas tornaram-se mais “amigáveis”, conflitos ideológicos foram superados e a globalização avançou verdadeiramente. Nesse movi- mento, a China se mostrou! E por lá desembarcamos com a Expedição Oriente, mais de 30 anos depois de começar nossas aventuras nomar. Foi ummomento his- tórico, durante o qual tivemos uma nova percepção dos negócios. EmXangai, recebemos a diretoria da operação chinesa daWEG a bordo do veleiro Kat. Tendo como base dos negócios a produtividade e a eficiência com foco na disciplina e no uso de capital, a empresa brasileira tem investido forte em inovação e capacidade intelectual. Sãomaisde714mestresdoutores, graduados e especialistas no Brasil e nos 11 países onde estão instalados. De colaboradores, são 29mil por aqui e nove mil no exterior. Para apoiar o desenvolvimento intelectual do time, a empresamantémparceria com13 universidades no Brasil e seis fora do país ( ver entrevista comDécio da Silva, presidente do conselho administrativo da WEG, na página 84 ). Como visão de futuro, a “Inteligência Competitiva” é ameta — aliada à percepção tecnológica, benchmarking e avaliação da concorrência. Por isso, a empresa tem a cultura de investir em capacidade criativa, o que abre horizontes além-mar, para novos negócios e conquista de novos mercados. Por tudo isso, aquele encontro a bordo revelou o que eu considero como sendo a consolidação da globaliza- ção. Globalização essa que tem dois lados. O bom é que proporcionou oportunidades de negócios de bens, ser- viços e capitais para diversos países — o que levou a uma evolução tecnológica e à inovação. Esse conhecimento agilizou o comércio e o fluxo de investimentos entre os países. Foi o caso daWEG, por exemplo. Por outro lado, fala-se da concentração de riquezas dos países mais desenvolvidos. Os mais pobres não têm como investir em tecnologia e ficamdependentes. Essas vantagens e desvantagens sempre existiram. A globalização continuará. É irreversível. Nesse cenário, uns terão mais sucesso e outros, menos, dependendo das políticas de governo em investimento na infraes- trutura, na integralização de tecnologia estrangeira e, principalmente, na educação da população. Anossa estada naChina foi significativa. Fomos o pri- meiro veleiro brasileiro a visitar o país. Lá, nos impres- sionamos sobre como o chinês é focado 100% no traba- lho e na poupança. OBancoMundial calcula que, desde 1970, mais de um bilhão de chineses abandonaram os limites da pobreza. Jamais, na históriamundial, umpaís cresceu tanto nas últimas quatro décadas. O que será desse mundo “pós-globalização”? Perce- bemos que o governo chinês defende fortemente o livre comércio. Faz parte da cultura e vem desde a época de ZhengHe (1370), que navegou comsua frota pelo oceano Índico para comercializar porcelana, seda e chá. Ahistóriaserepete.Oschinesesentendemqueomelhor caminho é a negociação e dizemque não haverá descon- tinuidade no processo. Recentemente, o presidente chi- nês, Xi Jinping, disse que o protecionismo é como tran- car a si mesmo emumquarto escuro. Embora o vento e a chuva sejammantidos lá fora, tambémsão a luz e o ar. É umgrande equívoco lutar contra a globalização. Se umveleiro brasileiro consegue navegar entre centenas de navios gigantescos e, como eles, ancorar no maior porto do planeta, então omundo pós-globalização tam- bémpode ser uma experiência fascinante. Vilfredo Schurmann Economista, navegador, palestrante e presidente da Schurmann Produções Cinematográficas arquivo pessoal
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