RESPM JUL_AGO_SET 2017
Trajetória Revista da ESPM | julho/agosto/setembrode 2017 80 para o contribuinte, buscando o desenho de umsistema bancáriomenos alavancado e commaior correspondên- cia de vencimentos entre a captação e os empréstimos. Ospaísesemdesenvolvimento,apósascrisesdebalanço de pagamentos do final dos anos 1990, desenvolveram estratégia para adotar taxas de câmbiomais flexíveis ou flutuantes ao lado da acumulação de reservas, e assim fazer frente aos riscos da especulação nos mercados de câmbio e dívida. De posse desse “seguro”, ficarammenos permeáveis à atuação do FMI. Do alto de sua pilha de reservas, a China inicioumovimento de internacionali- zaçãoda suamoeda, que está longede ser concluído,mas já é reconhecido pela inclusão de suamoeda na cesta de moedas que define o valor do Direito Especial de Saque (DES), unidade de conta utilizada pelo FMI. No regimecambial flutuanteque se sucedeuaodeBret- tonWoods, os ajustes contínuos sãomenos traumáticos, masosnovosmercadosfinanceiros globais, longede sua- vizar os movimentos entre as moedas, têm-se mostrado capazesdegerarsituaçõesdegrandeinstabilidadenocurto prazo.Osmovimentoscambiaisalteramconstantemente acompetitividadecomercialrelativadaseconomias,oque tornaoregimecambialdaglobalizaçãocontemporâneaum alimento adicional da incerteza nomundoda produção. No campo dos investimentos, as transformações tecnológicas trazem muitas questões sobre o modelo de terceirização internacional das cadeias de produ- ção que presidiu o período recente. Ao mesmo tempo, o prolongado período de crescimento da Ásia se tra- duz em elevação do custo da mão de obra nas áreas em que amanufatura se desenvolveumais amplamente. O baixo crescimento do comércio global a partir da crise de 2008, sistematicamente abaixo da produção mun- dial, ao contrário do período anterior, tem sido perce- bido não apenas como um resultado da crise financeira e seu impacto negativo prolongado sobre a economia real, mas também de mudanças estruturais na distri- buição da produção em torno do mundo. Por um lado, os ganhos do fracionamento global da produção esta- riam esgotados nas principais cadeias, levando natu- ralmente a um ritmo menor de crescimento do comér- cio emrelação à produçãomundial. Haveria fenômenos de reshoring , retorno da produção industrial aos países desenvolvidos, em função de limitações do offshoring em termos de qualidade e treinamento da mão de obra para processos produtivos cada vez mais tecnificados ou em função de novas técnicas de produção poupado- ras demão de obra, combase na robótica e na impressão 3D. A transição da China para setores mais nobres das cadeias produtivas reduziria o comércio de componen- tes, enquanto seu avanço em setores intermediários e de bens de capital reduziria a importação desses itens. Oajustedadenominadaperiferiadazonadoeuroàcrise, por sua vez, levou a Europa a deixar de ter uma conta cor- rente deficitária e passar a superavitária, o que significa menor demanda para as exportações do resto domundo. Gradual,mascrescentemente, aChinaeoutrospaísesem desenvolvimento, as chamadas economias emergentes, se tornam investidores internacionais de relevo. A emer- gênciadaChina como investidor internacional, emparti- cular, trazdesafios econômicos epolíticos, namedidaem quemuitasdesuasempresasqueseinternacionalizamsão estataiscomforteorientaçãodegovernosobresuasações, o que contrasta coma separação crescente entre proprie- dade e gestão e entre nacionalidade e decisão caracterís- ticas das grandes corporaçõesmultinacionais. Vivemos, portanto, transformações que nos distan- ciamdas estruturas e formas de funcionar combase nas quais se consolidaramos elementos dos regimes econô- micos internacionais em vigor. Essas transformações na competitividade e na importância econômica rela- tivas dos países, na base tecnológica e seu impacto na organização da produção e das finanças terão de ser tra- duzidas nas características dos regimes. No momento, porém, assiste-se a fortes resistências sociais e políticas a essemovimento. Numprimeiro nível, os cidadãos nas democracias ocidentais questionamos efeitos do regime atual, namedidaemque trouxeramníveisde competição externa coma qual têmdificuldade de lidar, tantodireta- mentequanto redirecionandoa forçade trabalhoanovos setores. Isso repercute no nível das lideranças políticas, seja com a ascensão de forças nacionalistas e protecio- nistas, seja com a modificação do discurso das forças Oprolongado período de crescimento daÁsia se traduz emelevação do custo damão de obra nos locais ondea manufaturasedesenvolveuamplamente
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