RESPM JUL_AGO_SET 2017

julho/agosto/setembrode 2017| RevistadaESPM 79 grandes emergentes consideravam-se qualificados e com direito a participar das decisões centrais. Recordavam, porém, seu caráter de economias emdesenvolvimento, que deveriampoder preservar espaços para políticas de desenvolvimento e controle no acesso a seusmercados. AÁsia, exportadora demanufaturas combase emmão de obra barata, auxiliou a estabilidade de preços nos paí- ses desenvolvidos e amanter baixas, emconsequência, as taxas de juros internacionais. A Ásia, que se tornou importadora líquida de alimentos e de produtos basea- dos em recursos naturais, forneceu a demanda que ele- vou os preços das commodities ao longo dos anos 2000, criando novas oportunidades para os países em desen- volvimento exportadores líquidos dessas mercadorias. A Ásia, que por meio do modelo exportador reduziu a pobreza e ampliou a urbanização, aumentou a demanda de alimentos e diversificou gradualmente seu padrão de consumo. Mas isso implicou colocar milhões de novos trabalhadores no mercado de trabalho mundial, mesmo que, na ausênciade livre circulaçãode trabalhadores, isso se fezpormeiodo comérciodesimpedidodemercadorias. Oalíviomacroeconômicoaos países desenvolvidos, dado pelas manufaturas a preços baixos importadas da Ásia, estava associado à transferência para o exterior, notada- mente para a Ásia, da produção dos elosmais intensivos emmão de obra de baixa e média qualificação. A classe médiaoperáriadospaísesdesenvolvidosnãoachougraça. Quanto à arquitetura do sistema, os anos 2000 assisti- ramauma explosãode acordos de livre comércio. Embora países latino-americanos tenham estado ativos nesse movimento, o foco foi a Ásia. Os acordos asiáticos refe- rendaramaestruturadedivisão internacional do trabalho ao longo de cadeias produtivas integradas que já se havia formado comapoio no comércio embases de naçãomais favorecida.Nessecenário,acordosdelivrecomérciogeram efeitodominó,jáqueacompetiçãopelaposiçãonascadeias exige que os países concorrentes neutralizema preferên- cia gerada por umacordo. O resultado foi a criação de um multilateralismomultipreferencial, emque aOMCdeixa de ter a exclusividade da gestão do sistema, mas convive comumaextensa rededeacordospreferenciais. Asdificul- dadesdaobtençãodeacordosamplosnomarcodaRodada Doha levaramàpercepçãodequeos acordospreferenciais seriam a saída para continuar o avanço da globalização. Mais ambiciosos em termos de eliminação da proteção contra importações e avançando por áreas da regulação econômicadoméstica, os acordosde livre comércio foram ganhandomusculatura e, por issomesmo, tornando-se o objeto preferencial dos críticos da globalização. No campo financeiro, parte majoritária da expansão dos fluxos financeiros globais tornou-se autônoma, no sentido de não estar diretamente vinculada à função clássica de intermediação entre poupadores e investido- res. As transações interbancárias, os mercados secun- dários e de derivativos ocuparam parte crescente dos fluxos financeiros internacionais e se tornarammuitas vezesmaiores do que o financiamento da produção e dos investimentos. Nesse contexto, a crise de 2008 trouxe a percepção de que o setor financeiro globalizado era ins- tável, concentrava renda em favor de seus operadores, excedia a sua função social de financiar o crescimento econômico e, com suas instituições financeiras “ too big to fail ”, representava um risco garantido, emúltima ins- tância, pelos contribuintes. As reformas regulatórias do sistema financeiro global após a crise de 2008, capita- neadas pelo G20 e implementadas por meio da coorde- nação no Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês), procuraramreduzir o risco do sistema e shutterstock

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx