RESPM JUL_AGO_SET 2017

estratégia Revista da ESPM | julho/agosto/setembrode 2017 72 déficit de US$ 52,7 bilhões (segundo dados do ano fiscal 2015-2016) no comércio com o país vizinho. A neces- sidade de conferir ampla cobertura ao acordo de livre comércio significa pouca margem de manobra para a Índia salvaguardar setores sensíveis de sua economia. Para contrabalançar suas sensibilidades no comér- cio de bens nas negociações comerciais, a Índia tem insistido na necessidade de maior abertura comercial no setor de serviços, especialmente no que se refere à movimentação de trabalhadores. NaOrganizaçãoMun- dial doComércio (OMC), a Índia tempatrocinado, desde 2016, a discussão de acordo de facilitação do comércio de serviços, que inclua, entre outros temas, a facilita- ção de vistos para trabalhadores operarem fora de seus países de origem. Segundo dados das Nações Unidas, em 2016, a Índia foi o país que mais recebeu recursos enviados do exterior por trabalhadores expatriados: um total de US$ 62,7 bilhões, que representam 2,9% do PIB indiano. Os esforços da Índia empromover a abertura comer- cial no setor de serviços e o próprio engajamento do país nas discussões da OMC evidenciam que, apesar das sensibilidades observadas em alguns segmentos dos setores agrícolas e manufatureiro, a Índia repensa sua política de comércio exterior, mas não recorre a discursos protecionistas. Busca, contudo, uma estra- tégia de abertura comercial equilibrada, capaz de gerar negócios e de aumentar a participação do país nas cadeias globais de valor, sem desestruturar o mercado e as relações sociais internas. Nesse sentido, a Índia tem olhado para mercados alternativos, em busca de espaços onde possa desenvolver políticas de promoção comercial e de investimentos. A necessidade de a Índia promover maior abertura comercial cria oportunidades para a América Latina e, especialmente, para o Brasil. Em 2016, Índia e Chile assinaram acordo para expansão do regime de prefe- rências tarifárias em vigor desde 2007. Em janeiro de 2017, o gabinete do primeiro-ministroModi autorizou o início de conversas formais para assinatura de acordo comercial como Peru. Espera-se que, embreve, anúncio semelhante seja feito para assinatura de acordo com o Equador. Na mesma linha, encontra-se emnegociação a expansão do acordo de preferências comerciais entre Mercosul e Índia. Em vigor desde 2009, o acordo entre Mercosul e Índia estabelece preferências tarifárias, ou seja, tarifas de importaçãomais reduzidas para alguns produtos, no comércio bilateral. O presente acordo conta com apenas 450 produtos na lista de concessões de cada uma das partes signatárias, e as negociações atuais pretendem elevar o número de produtos bene- ficiados para 2,5 mil itens. Ao contrário das negociações da Índia com a União Europeia ou da RCEP, as regras do sistema multilateral de comércio permitemque países emdesenvolvimento estabeleçamentre si acordos comerciaismais limitados. Apesar do menor escopo, estes acordos de preferência comercial podemcontribuir para dinamizar o comércio bilateral e estreitar laços que possibilitemacordosmais amplos no futuro. Não deixamde ser exercícios parciais capazes de gerar uma competição, ainda que controlada, nos mercados, em um nível adequado para acomodar sensibilidades e reticências. Não por acaso, a Índia tem reiterado, sistematicamente, sua intenção de expandir seu engajamento com a América Latina mediante assi- natura de acordos comerciais. Neste sentido, a conclusãodas negociações entreMer- cosul e Índia é fundamental para dar novo ímpeto ao comércio bilateral e gerar novas condições de acesso ao mercado indiano a seremexploradas pelo setor empre- sarial. Aliada aos esforços de promoção comercial e adensamento das relações empresariais, a expansão do referido acordo pode contribuir para a diversificação Nosúltimos trêsanos, oprograma Make in India eliminouas restriçõesa investimentosestrangeiros, oqueaumentouem 40%ovolumede investimentosdiretos recebidospelopaís shutterstock

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx