RESPM MAI_JUN 2016
entrevista | ROBERTA SALVADOR DOS SANTOS Revista da ESPM |maio/junhode 2016 84 sobre mão de obra infantil, nós apro- veitávamos para introduzir o assunto. Já quando o assunto é a cadeia de suprimentos, onde eles têmumconhe- cimento maior sobre o tema, aí, sim, nós criamos um módulo específico sobre anticorrupção. Foi um trabalho enorme, mas surtiu muito efeito. De fato, tivemos pouquíssimas denún- cias de corrupção — para não dizer nenhuma —, e amaior parte dos casos dizia respeito ao não cumprimento do código de conduta. Por isso estamos muito felizes comos resultados. Revista da ESPM —Quantas são e que tipos de denúncias mais preocupam? Roberta — Eu não posso revelar o nú- mero de denúncias, mas, hoje, o que maisnospreocupa temaver comatitu- de, porque corrupção não seria o caso. Eu diria que é mais a aderência aos nossos valores e à nossa cultura. Toda pessoa que entra na Natura recebe um intenso treinamento, que passa pelo código de conduta, para que não haja dúvidas doque esperamos dela. Revista da ESPM — Desde 2010, o Banco Mundial vem monitorando a “corrupção silenciosa” em empresas e governos. Nem sempre envolve dinheiro, mas práticas que incluem tráfico de influência. Qual é a preo- cupação da empresa para quem usa o nome dela em diversas frentes de rela- cionamento comercial e institucional? Roberta —Nós temos uma preocupa- ção extremada com a nossa marca, envolvendo não só parceiros, como também as relações com governo. Em qualquer contato com o poder público, nós procuramos estar em grupo de três ou quatro pessoas, para que não haja qualquer tipo de mal- -entendido, digamos assim. Desse modo, não temos nenhum caso mal resolvido em relação às autoridades, muito por conta de toda essa costura que fizemos. Temos grande preocu- pação em manter uma comunicação muito clara e transparente dos nos- sos princípios, nesse sentido. Foi bem lembrado o fato de que o tema corrupção sempre nos remete ao pa- gamento ou recebimento de propina. Ela vai além disso. E nos preocupa muito a questão do tráfico de influên- cia, até porque os fundadores da em- presa são pessoas muito influentes e têm enorme zelo em preservar os valores da companhia sem que haja algum mal-entendido. Por mais que eles tenham sua vida pessoal fora da Natura, eles têm muita consciência de como as suas histórias estão rela- cionadas com a marca. Revista da ESPM — Como é feita a co- municação sobre as regras de compliance comas consultoras damarca? Roberta — Nós procuramos ser o mais didático possível. Mostramos de maneira prática as políticas que elas devem cumprir. Por exemplo, a consultora não deve alugar um espaço público para vender. Não deve dar um produto Natura de presente para um prefeitooupara umguarda de trânsito. Nunca aceitar dinheiro em troca de algum favor relacionado à marca. São ações muito ligadas ao dia a dia dela. O que procuramos é fazer um treina- mento muito leve e fomos muito bem recebidos por elas. Tanto que a gente brinca que foi o primeiro treinamento emquenós é que recebemos nota 10. Revista da ESPM — O ranking do Ethisphere Institute tem presença domi- nante de companhias dos Estados Uni- dos e, na sequência, nota-se a menção mais ou menos equilibrada de empresas de diversos países da Europa, Ásia, Ocea- nia e América Latina. Isso é uma evidên- cia de que as companhias americanas estão mais estruturadas no que se refere a práticas consagradas de compliance? Roberta — A legislação da Inglaterra e de outros países europeus é bastante avançada, e nós imaginamos que as empresas estariam no mesmo pata- mar. Mas notamos no ranking uma presença maior de empresas ameri- canas. Quando você olha do ponto de vista da legislação, a Europa estámais avançada,mas, quandovocêolhapara as empresas —vide agora o exemploda Volkswagen —, as americanas estão um passo adiante. Aparentemente, as companhias europeias parecem me- nos aderentes. Isso é até umparadoxo: o americano parece ir mais direto ao ponto. Lá, você tem apenas um caso, a Enron, por exemplo, e as empresas se mobilizam para atacar o problema. Decidem então que o compliance passa a ser uma estrutura importante Comuma força de vendas de 1,4milhão de consultoras, aNatura precisou pegar os conceitos do compliance, destrinchar e explicar tudo de maneira didática já emsua ficha cadastral
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