RESPM MAI_JUN 2016
entrevista | ROBERTA SALVADOR DOS SANTOS Revista da ESPM |maio/junhode 2016 82 Revista da ESPM — A Natura foi a única representante brasileira no ranking de 131 companhias relacionadas como as mais éticas do mundo pelo Ethisphere Institute. É a sexta vez que a empresa aparece na relação, que neste ano tem somente três representantes latino-ame- ricanos. Em primeiro lugar, qual foi a base de informações que a Natura teve de prestar aos organizadores do ranking? Roberta Salvador dos Santos — Nós respondemos a uma pesquisa, que é um questionário superexaustivo, indagando sobre a nossa governança, modelo de compliance e avaliação de riscos. Como a nossa estrutura de negócio é um pouco diferenciada, o instituto entra até na questão da nossa relação com as consultoras. Mas, em resumo, eles focam muito em ouvido- ria, compliance e riscos. O questioná- rio é bemcomplexo. Revista da ESPM — O ranking do Ethisphere Institute é composto por cin- co dimensões: programa de ética e com- pliance (35%); cidadania corporativa e responsabilidade (20%); cultura ética (20%); governança (15%); e liderança, inovação e reputação (10%). Gostaria que a senhora comentasse que tipo de iniciativa a Natura dispõe dentro de cada uma dessas dimensões. Roberta — Eu voumisturar umpouco as coisas. Até pouco tempo atrás, as pessoas perguntavam: como a Natu- ra, que é uma empresa com mais de 45 anos, ainda não tem uma área de compliance? Eu comecei a implemen- tar esse projeto há dois anos, com a vinda do Roberto Lima, presidente da companhia, que pediu a criação da área. E eu, como vinha de nove anos de IBM e tinha essa expertise, iniciei o trabalho. Mas o fato é que toda essa parte de cidadania e construção de sustentabilidade da Natura já fazia parte do mindset dos fundadores. Eles nem sabiam exatamente o que era isso, mas já haviam construído uma empresa baseada nos conceitos que estão por trás do compliance. Então, o que é ética? É o que está baseado em seu caráter e tem muita ligação nos valores dos fundadores da empresa. Quando eles montaram a Natura, 47 anos atrás, muito intuitivamente, foram fazendo as coisas dessa forma. Uma empresa baseada em cidadania, respeito ao próximo, ética, todos aqueles conceitos que aprendemos comnossos pais, de maneira simples, sem muita filosofia. E quando eu fui implementar a área, já estava tudo lá. Revista da ESPM — Por isso, foi um processo relativamente simples a imple- mentação do compliance? Roberta — Sem querer parecer arro- gante, quando tivemos de responder a todos os questionamentos do instituto, foi até fácil ganharmos este prêmio, pois ele fazia parte da cultura da Natura. Faz parte do nosso dia a dia. Quando falamos em relacionamento com as entidades, não vamos lá e damos dinheiro para um instituto. Não é simplesmente dar dinheiro para alguma entidade esperando que o trabalho infantil deixe de existir. Trata-se de um tra- balho completo, que envolve todas as dimensões. Eu, Roberta, fui para a Amazônia ver de perto as comuni- dades. As crianças estão estudando. Se não há escolas por perto, nós pro- videnciamos professor, serviço de saúde. Por isso, quando se fala em compliance dentro desse ambiente, a questão é apenas conectar tudo isso. A implementação da parte de compliance na Natura nada mais foi além de realizar todos os treina- mentos com os executivos e rever as políticas anticorrupção. Revista da ESPM —A legislação exigiu muitas mudanças de procedimento? Roberta — Com a aprovação da Lei 12.846 [Anticorrupção, de 2013], houve certa burocratização nos procedimentos que nós tivemos de adaptar ao que já existia dentro da Natura. Imagine que nós temos uma força de vendas de 1,4 milhão de consultoras, que não entendem, necessariamente, o que seja tudo isso. Então tivemos de explicar di- reitinho, na ficha cadastral. Pegar os conceitos do compliance e des- trinchar. Quando a relação é B2B, fica mais fácil, mas nós estamos falando com a ponta e é preciso ter essa delicadeza. Revista da ESPM — Por que a decisão de criar a área de compliance agora? Qualquer pessoa que fala emseu próprio nome pode praticar umato de corrupção. Nós temos vários parceiros que atuamemnosso nome naAmazônia e este é, disparado, o nossomaior desafio
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