RESPM MAI_JUN 2016

Revista da ESPM |maio/junhode 2016 56 O velho e surrado discurso do “Eu não sabia!” já não colamais nomundo empre- sarial. Os administradores que dirigem grandes grupos ou empresas de médio e pequeno portes não devem mais usar essa alegação para se desculparem de eventuais desvios cometidos por suas empresas. Um exemplo recente deste novo momento pelo qual passa o ambiente corporativo foi o pedido público de desculpas da Andrade Gutierrez, que assumiu publi- camente a responsabilidade pelos atos ilegais pratica- dos por administrações anteriores da empresa e pro- curou demonstrar que está trabalhando para evitar que esse tipo de erro ocorra novamente. Tudo como manda a Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/2013), que há três anos passou a reger as relações empresariais no Brasil, responsabilizando a empresa e seus diri- gentes por atos ilícitos. É o compliance começando a fazer história em todo o território nacional. Mas engana-se quem pensa que o compliance sur- giu apenas como forma de proteger as organizações contra fraudes e atos de corrupção ou ilegalidade. O compliance é, na verdade, uma poderosa arma para disseminar e defender o comportamento ético, a cida- dania e a governança transparente da empresa, den- tro e fora de seus muros. Assim, quandocomeçamos apesquisar oestágioatual do compliance no Brasil, não tínhamos ideia da impor- tância e da abrangência que o conceito assumiu nomer- cadonacional,principalmenteentreasgrandesempresas. Outra surpresa foi adiscriçãocomqueoassuntoé tratado noambiente corporativoea relutânciademuitos executi- vos emprestar informações sobreoque jáestá sendo feito para reverter ou evitar escândalos como os enfrentados por Andrade Gutierrez, Odebrecht, Petrobras e tantos outros casos que ainda estão por vir com o andamento das operações Zelotes e Acrônimo, da Polícia Federal. Oque ficou evidente durante a elaboraçãodesta repor- tagem é que está em curso uma revolução silenciosa que visa melhorar os padrões éticos, de transparência e cidadania das empresas presentes em praticamente todos os segmentos da economia. E este movimento vai muito além da preocupação com a imagem cor- porativa, geralmente associada a esses temas, como apontam os profissionais das dez empresas que com- põem este especial sobre compliance. Nas páginas a seguir, você confere como o conceito vem sendo tratado em grandes companhias, como BRF, Cemig, Henkel, Johnson & Johnson, Porto Seguro, Sabesp, Santander, Ultrapar, Vale e Votorantim. O que estas empresas têm em comum? A elaboração de uma série de mecanismos e sistemas de monitoramento para que o negócio siga sempre os preceitos da ética e em conformidade com as leis e normas de cada setor. Tal movimento foi intensificado pela lei anticorrup- ção do Brasil, que acabou substituindo o termo “com- pliance” pela palavra “integridade”. Assim, as penali- dades da nossa lei anticorrupção são fortes e severas, mas poderão ser atenuadas caso a empresa apresente ummecanismo de “integridade” efetivo. “Hoje, a grande maioria dos executivos está buscando fazer a coisa certa por receio das punições previstas em lei. Mas já temos uma pequena quantidade de empresas que per- ceberam que o comportamento correto em qualquer situação é o que vai dar sustentabilidade ao negócio”, comenta Wagner Giovanini, autor de Compliance, a excelência na prática (2014) e sócio-fundador da con- sultoria Compliance Total. “O empresário precisa perceber que uma coisa é você criar muros jurídicos de proteção. Outra é agir de maneira íntegra e fazer o que é certo sempre, independentemente do que diz a lei.” Quer um exemplo prático disso? De acordo com a legislação brasileira, nada impede você de marcar um jantar com o profissional da área de compras do seu cliente na noite que antecede a decisão de um pedido demilhões de dólares. “Mas uma empresa ética jamais adotaria esse tipo de comportamento simplesmente por entender que isso poderia gerar uma vantagem indevida. Com isso, ela faz mais do que atender à lei e contribui para disseminar no mercado a cultura da integridade e da ética”, ensina Giovanini, que em2007 Uma r evolução ét ica avança de manei ra si lenciosa nas empr esas brasi lei ras Podemos criar ummecanismo legal para exigir que somente empresas com programa válidode integridade possam participar de licitações e concorrências

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