RESPM MAI_JUN 2016

maio/junhode 2016| RevistadaESPM 41 Abrahão — Essa mensagem inicial que algumas empresas estão pas- sando é importante, mas pode se tornar a armadilha, se não houver materialidade no discurso. Elas não terão uma segunda chance. Hoje, precisamos firmar compro- missos com a transformação. In- tenção é importante, mas tem de se traduzir em ações. Revista da ESPM — Como você com- para a postura constrangida que tive- ram os executivos japoneses da Toyota na época em que houve aquela série de recalls por questões graves de segurança com o nonchalance dos alemães da Volkswagen quando flagrados ludi- briando o sistema de controle de emis- sões de poluentes nos Estados Unidos? Abrahão — Compl iance tem a ver com a cultura dos cidadãos, das empresas e dos gover nos . Mas não é uma questão moral. É evidente que as culturas têm um papel nesses processos, mas eles dependem mu ito de uma i nst i- t uciona l i zação. Se nós formos capazes, como sociedade, de criar leis robustas, instituições fortes e, a partir daí, combater a impu- nidade, responsabilizar cidadãos, empresas, executivos, políticos, vamos encontrar o caminho da mudança. Existem exemplos bons e ruins em todas as culturas. Há uma cultura forte de combate à cor r upção nos Est ados Un idos por causa da legislação poderosa que eles têm. Não é por causa da cu ltura. O mundo dos negócios trabalha com uma lógica transna- cional. Revista da ESPM — A Operação Mãos Limpas teve um desfecho de- cepcionante em termos de mudanças duradouras. Essa experiência na Itália nos ensina alguma coisa? Abrahão — Sim. À medida que se desmonta um determinado siste- ma, abrem-se possibilidades para novas forças. Essas novas forças podem ser aventureiras. Ou seja, não necessariamente vinculadas aos desafios do país. Esse é um risco para todas as sociedades. O poder pode apenas mudar de mãos. O que aconteceu na Itália foi o surgimento de uma política que resultou num retrocesso depois dos escândalos que ocorreram lá, mas isso não faz com que a gente não possa valorizar o processo da Operação Mãos Lim- pas. O que está acontecendo aqui e o que aconteceu lá sugerem que a gen- te precisa de uma transformação no sistema político-eleitoral. Estão aí, na relação público-privada, as causas dos problemas que vivemos atualmente. Rev ista da ESPM — Quais são essas causas? Abrahão — Está clara a influência do poder econômico na política, e de como a pol ít ica responde atendendo às demandas do poder econômico. No fina l, a política está montada para defender mais os interesses privados do que os interesses públicos. É isso que pre- cisamos inverter. shutterstock Oque aconteceu comaOperaçãoMãos Limpas na Itália, de SilvioBerlusconi, foi o surgimento de uma política que resultounumretrocesso depois dos escândalos que ocorreramnaquele país

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