RESPM MAI_JUN 2016
entrevista | Jorge Abrahão Revista da ESPM |maio/junhode 2016 40 nesses escândalos. Ainda veremos muitas delações premiadas. Do pon- to de vista das boas práticas de com- pliance, qual é o melhor caminho a seguir numa situação em que é preciso se expor? Abrahão — A grande questão é re- conhecer o seu erro e expô-lo para a sociedade. Esconder a lguma coisa agora é quase como perma- necer no erro. É importante esse reconhecimento, o fato de partici- par de uma delação premiada, de expor com clareza as suas dificul- dades e até pedir desculpas, como fez outro dia a Andrade Gutierrez. Pode parecer um ato menor, mas é um ato de reconhecimento que vai fazer com que seu público interno e seus relacionamentos externos se fortaleçam. Revista da ESPM — O mercado não está convencido de que a An- drade Gutierrez efetivamente se ar- rependeu do que fez e terá um novo comportamento. Qual a sua visão em relação a isso? Abrahão — O mercado não vai se convencer mesmo. O que vai valer é a prática dessas empresas em seguida. Alguém espera que essas companhias, de repente, passem a ter credibilidade? Elas não vão ter. A desconfiança vai permanecer. Vão ter de demonstrar compromis- so público e ação concreta. Essas empresas estão vivenciando uma grande lição. Revista da ESPM — Nos Estados Unidos, as empresas que se tornam símbolos de escândalos corporativos, como Enron e WorldCom, dificilmen- te sobrevivem. Temos experiências no Brasil que nos permitam prever o que vai acontecer com essas empreiteiras condenadas na Lava Jato? Abrahão — O Brasi l não é tão d i ferente de out ros pa íses. Os grandes bancos americanos foram preservados. Há grandes empresas americanas que são preservadas. A GM não quebra, por pior que possa estar. A GE não quebra. Há uma máxima nos Estados Unidos: “grande demais para quebrar”. Há empresas que acabam tendo um determi nado grau de proteção pelo que elas significam para a sociedade, em diversos pa íses. Também pelo v íncu lo que elas têm com governos. Muitas dessas empresas são financiadoras da política. Revista da ESPM — E o que se pode prever em relação às empresas envolvidas na Lava Jato? Abrahão — Creio que as maio- res vão sobrev iver. Em mi nha avaliação, a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez vão sobreviver. A Odebrecht tende a sobreviver, embora seja mu ito dependente do setor público. Pode diminuir muito, mas tende a sobrev iver, se efetivamente fizer um acordo [de leniência] e conseguir passar a mensagem de transformação. As empresas que não estavam tão estruturadas, viviam totalmente dependentes da relação com o poder público e não tinham uma carteira diversificada, terão muita dificuldade. Revista da ESPM — Existem ca- sos de sucesso que mereçam ser estudados, de empresas que foram flagradas em escândalos desse tipo e tenham recuperado o respeito e a reputação? Abrahão — O exemplo para ben- chmark , do ponto de vista do com- pliance, é a Siemens. Ela atuava em mais de cem países, foi flagra- da em escândalos de corrupção e punida com uma multa que ultra- passou US$ 1 bilhão. Isso colocou em risco a própria continuidade da empresa. A Siemens tomou uma decisão de transformação e hoje é tida, nos rankings de controles, como uma empresa com alto grau de compliance e credibilidade nes- se setor. O processo passou pela mudança de toda a sua diretoria e por fortes alterações no conselho. Ela mapeou áreas de risco, criou canais de denúncia, fez o necessá- rio para se tornar referência. Revista da ESPM — Ou seja, a Sie- mens foi muito além do discurso e do pedido de desculpas. Emminha avaliação, aCamargoCorrêa e aAndradeGutierrez vão sobreviver. AOdebrecht tambémtende a sobreviver, embora sejamuitodependente do setor público
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