RESPM MAI_JUN 2016
entrevista | Jorge Abrahão Revista da ESPM |maio/junhode 2016 38 Revista da ESPM — As bandeiras clássicas do Instituto Ethos são comportamento transparente, ético, sustentável e cidadão, por parte das empresas. Como o compliance entra nessa receita? Jorge Abrahão — A missão do Ethos é a construção de uma so- ciedade justa e sustentável com a parceria das empresas. Hoje, se você não tiver uma moldura ética na sua empresa, que é o complian- ce, o seu negócio não tem futuro. Este é um sinal de avanço da nossa sociedade. Revista da ESPM — Compliance tem um peso nos seus indicadores de responsabilidade social? Abrahão — Tem um peso impor- tante. Os Indicadores Ethos têm algumas camadas. Você se posi- ciona qualitativamente nos indi- cadores em função de ter ou não um código de conduta na sua em- presa, uma ouvidoria, um canal de denúncia etc. Revista da ESPM — O Instituto Ethos desenvolve o programa Pró-Ética em parceria com a antiga CGU — atual Ministério da Transparência. Qual a sua avaliação deste ministé- rio e do escândalo que derrubou o ministro Fabiano Silveira em apenas 19 dias do governo Temer? Abrahão — Programas como o Pró-Ética são positivos para a so- ciedade avançar. Nós construímos mecanismos para punir as empre- sas, e a questão da impunidade é mesmo chave e deve avançar. Mas temos poucos instr umentos na sociedade para reconhecer os ne- gócios que se destacam pelo lado positivo. O Pró-Ética serve para re- conhecer essas empresas. Elas se inscrevem e preenchem um ques- tionário com mais de 70 perguntas profundas, que demonstram se es- tão realmente avançando. Depois, passam pelo crivo do conjunto de entidades que, além da CGU e do Ethos, fazem parte do comitê Pró-Ética. Revista da ESPM — Certo, mas o escândalo do Ministério da Transpa- rência afeta o programa? Abrahão — Nós ainda não temos dados para avaliar isso. O que talvez preocupe mais seja a indicação de um ministro que notoriamente não tinha uma visão de transparência. Revista da ESPM — O que esperar do governo Temer em termos de éti- ca e transparência? Abrahão — Falando depois de 20 dias de instalado o governo, esta- mos correndo risco de retrocesso nessa agenda, por causa da nome- ação de vários ministros envolvi- dos em atos ilícitos, de corrupção. Essa não é uma boa mensagem para a sociedade. O Brasil vive o melhor momento de sua história no combate à corrupção. Se você olhar o índice da Transparência Internaciona l de percepção da corrupção, a posição do país pio- rou. Mas piorou, a nosso juízo, justamente porque os casos estão aparecendo e geram indignação. Revista da ESPM — Esta edição da Revista da ESPM traz exemplos de iniciativas de grandes empresas para enfrentar problemas de corrupção. Parece haver, porém, um sentimento difuso na iniciativa privada de que não se encontra uma contrapartida governamental nesse esforço. Abrahão — No caso da relação público-privada, há uma conf u- são de interesses mútuos dentro desse processo. Não acho que um governo qualquer seja responsá- vel por isso ou que a política seja responsável por isso. Também não acho que só as empresas sejam responsáveis por isso. É uma com- binação de interesses das empre- sas com os de políticos. Os finan- ciamentos privados de campanha ficaram cada vez mais elevados, e o retorno disso é por meio de be- nesses para as empresas, para exe- cutivos e para políticos, de uma forma geral. O que precisamos é criar elementos, legislações, ins- tituições fortes para evitar esse processo. Vamos ter um momento superimportante agora, que vai ser uma eleição sem financiamen- to privado de campanha. As empresas estão sendo punidas, e isso émuito importante, mas para fechar o ciclo precisamos que os políticos sejampunidos. Isso é uma coisa que a Justiça ainda está devendo
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