RESPM MAI_JUN 2016

entrevista | Sidney Ito Revista da ESPM |maio/junhode 2016 16 plantação do compliance na empresa. Quando a questão de ética e conduta não é uma preocupação do conselho, este acaba empurrando os problemas para a diretoria, semgrandes questio- namentos. Agora, quando o conselho de administração se preocupa com o compliance, ele cobra ética e conduta da diretoria, que passa a cobrar tam- bémdos gestores. Revista da ESPM — É o famoso “exemplo a ser seguido”... Sidney — Sim. O grande erro é você achar que o problema não é seu, e sim das pessoas que estão abaixo de você. Ao dar o exemplo, você consegue exigir o funcionamento correto do sistema e punir os quenãoo seguirem. Revista da ESPM — Voltando ao exemplo da Natura, segundo Roberta Salvador dos Santos, diretora jurídica e de compliance da companhia, os valores do compliance já faziam parte do dia a dia do negócio e por isso a adoção de um código de conduta único para todos acabou ajudando a criar relações ainda mais sustentáveis (ver entrevista na página 80) . Em sua avaliação, qual é a relação existente entre sustentabilidade, responsabilidade social e compliance? Sidney — Sustentabilidade é um ter- mo amplo, que pode significar a sus- tentabilidade ambiental, de pessoas e até da própria corporação. Quando você consegue transmitir os concei- tos do compliance para todos — dos acionistas e funcionários aos consu- midores e comunidades —, está dando exemplo para toda a sociedade. É um processo contínuo, que é alimentado de todos os lados. Até porque o con- sumidor já começa a questionar se compensa comprar móveis daquela empresa que não está preocupada com a questão do desmatamento, por exemplo. E isso é compliance! Revista da ESPM — De acordo com a pesquisa Maturidade do Compliance no Brasil , da KPMG, 46% das empresas classificaram a maturidade da estrutura e a função do compliance nos dois me- nores níveis de governança considerados neste estudo: 12% “sem infraestrutura” e 34% com “infraestrutura mínima”. O que revelamestes resultados? Sidney — Isso indica que o Brasil ainda tem um caminho a seguir, mas o foundation do compliance já está montado. Temos leis, órgãos regula- dores agindo e punições para quem não faz certo. Agora, esse movimento precisa continuar para que a matura- ção aconteça rápido. Principalmente porque esses acontecimentos não es- tão apenas nos olhos dos brasileiros, mas de todo omundo. Então, se o Bra- sil quer ter uma maior participação internacional e uma comercialização forte no exterior, ele precisa dar con- tinuidade a todo esse processo. Sem isso, qualquer tentativa de expansão comercial do país ficará prejudicada. É uma questão de sobrevivência para nós, brasileiros, e uma vantagem competitiva nossa em relação a ou- tros países que ainda não começaram a trabalhar o compliance. Já demos grandes passos, e as empresas estão realmente se mexendo. Isso indica que, emalguns anos, devemos atingir umnível dematuridade satisfatório. Revista da ESPM — Quando você fala em maturidade do setor, que país repre- senta esse benchmark ? Sidney — Os Estados Unidos são um benchmark de regras que todomundo leva a sério, mas não são infalíveis. Sempre tem alguma empresa que co- mete algo errado por lá. No Brasil, o mercado está começando a entender que a lei é importante, que as regras devem ser cumpridas e o quanto “ser punido” pode afetar a imagem de uma empresa. A maturidade vai existir quando a lei deixar de ser uma novidade, o compliance for uma realidade e os investidores optarem por empresas que tenhamessa estru- tura. Hoje, o mercado nacional está passando por um processo de trans- formação. A maioria das empresas está se mexendo, tentando entender toda essa movimentação e pensan- do em planos de ação. Agora é uma questão de tempo e de saneamento daqueles que fizeram errado. Revista da ESPM — Vamos pegar como exemplo o caso da Volkswagen, que está sendo punida por fraudar o con- trole de emissões de poluentes por meio de um software instalado em quase 600 mil veículos a diesel vendidos nos Estados O primeiro componente a se preocupar é a ética e a conduta, porque se você não tem estes dois pontos como cultura dentro da sua empresa, não vai funcionar

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