RESPM MAI_JUN 2016
Relações governamentais Revista da ESPM |maio/junhode 2016 110 dos profissionais que atuamnessa área no Brasil. Oconhe- cimentotécnicosobreumaáreaeodomíniosobreumsetor produtivolevamapessoaaseridentificadapelaempresacomo a interlocutora “perfeita”. Ela, certamente, saberá explicar os porquês das decisões técnicas da companhia e como as decisõestécnicasdogovernopoderãoimpactarosnegócios. ApróprialógicadodesenvolvimentodacarreiradeMaria faz comque sua redede relacionamentos sejamais focada nos pares. No entanto, paraque elapossa executar as rela- ções governamentais é fundamental que acesse os toma- dores dedecisãodogoverno, que conheçaosmecanismos mais adequados para seremusados nessa relação, como a participação em audiências públicas, a produção de white papers , lobby , grassroots lobby , entre tantosoutros. Também é preciso saber como posicionar a empresa e sua agenda diante dos espectros político, partidário e ideológico. Não raras vezes, é nesse momento que as corporações buscamapoiodeoutrasempresasou intermediários, foca- dosnasmaisdiversasatividades.Deestudosamapeamen- tosde tendênciasde votação, passandopela ligaçãodireta entretomadoresdedecisãoerepresentantesdasempresas, são serviços prestados por diversas consultorias. Não há absolutamentenadade ilegal ou imoral nesseprocesso. Ao contrário, é algo positivo namedida emque disponibiliza conhecimentos que seriam potencialmente muito mais caros para a empresa conquistá-los internamente. Aomesmo tempo, o desconhecimento queMaria apre- senta emrelação aomundoda política pode ser umincen- tivo — quando não uma fragilidade — para que sejam bus- cadas estratégias questionáveis emtermos legais e éticos. A grande questão que faz a diferença é o perfil do que a empresacontratanteprocura. Corrupçãosóexistequando há um acordo entre os dois lados. Não é algo exclusivo da política, mas uma combinação ruimentre práticas ilegais por parte tanto de tomadores de decisão governamental quantode representantes de empresas. De um lado, a necessidade de qualificação de Maria na dimensãopolítica semostracomoalgomuito importante, favorecendo suas análises com relação às estratégias a serem adotadas. O perfil e o conteúdo da qualificação é objeto de outro debate, que não será feito nestemomento. Discutiremos umaoutra linhade açãoquenão chega a ser alternativa à qualificação e, mais do que isso, ela se mos- tracomocomplementar: oestabelecimentodepolíticasde compliance por parte da empresa. O profissional de relações governamentais precisa atuar sabendo que a empresa temuma clara posição com relação à corrupção, que está disposta a perder negócios quando eles forembaseados empráticas ilegais. Existem diversos processos corporativos que tentam criar essa base, comoas orientações formaisde comportamentoem reuniões e as políticas de presentes. No entanto, aquela que semostramais densa é a elaboração de uma política (e sua implementação) de compliance. A prática da teoria Adiscussãosobreaçõesdecombateàcorrupçãoeousode políticas de compliance para esse objetivo temse fortale- cidonoBrasil. Uma tendênciaque sepercebe é amudança para a chamada nova escola de relações governamen- tais, que defende maior transparência nas relações com o governo, bem como atuação estrita dentro da lei e da moralidade. Mas esse movimento não ocorre apenas no Brasil. Tambémencontra espaço emagendas transnacio- nais. Entre osmais importantes esforços atuais, pode-se citar a Convenção de Combate à Corrupção de Oficiais PúblicosExternosemTransaçõesdeNegócios Internacio- nais, de 1999, e a Convenção das Nações Unidas contra a Assimcomo a lei se torna frágil quando a pessoanão entende seupapel de cidadão, as regras de compliance serão frágeis enquanto o funcionárionão se entender comoumcidadão corporativo
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