RESPM MAI_JUN 2016

entrevista | Beatriz Martins Carneiro Revista da ESPM |maio/junhode 2016 100 Revista da ESPM — O que é o Pacto Global daONU? Beatriz Martins Carneiro — O Pacto Global da ONU é uma iniciativa do ex- secretário-geral da ONU Kofi Annan. Existe desde 2000 e a Rede Brasil do Pacto Global vem desde 2003. Ela vem crescendo ao longo dos últimos anos. Já temos mais de 700 signatários no país. Aqui, nós temos o Comitê Brasi- leiro do Pacto Global, que conta com 36 organizações e é responsável pelas ações estratégicas do pacto. A Rede trabalha com dez princípios. Seis são relacionados a direitos humanos e trabalho, três a meio ambiente e um, o princípio 10, que é voltado ao combate à corrupção. O objetivo é o de obter o engajamento privado na defesa do compliance desses princípios. A Rede Brasil trabalha com organizações go- vernamentais e não governamentais e o objetivo é fomentar a incorporação desses dez princípios nas empresas. Revista da ESPM — Qual é o perfil dos 700 signatários aqui, no Brasil? Beatriz — Desses 700, mais de 400 são empresas, que estão divididas igual- mente em 218 pequenas e médias e 218 grandes companhias. Na verdade, a adesão ao Pacto é um compromisso muitomaior da empresa do que nosso. É um compromisso público que a or- ganização assume de observar e de se dedicar a esses dez princípios. Revista da ESPM — Quais são as con- quistas e projetos mais significativos? Beatriz — A Rede Brasil oferece opor- tunidade de capacitação para as em- presas e tambémde troca de experiên- cias. Temos grupos temáticos e comis- sões, nos quais as empresas e os de- mais signatários participam de inter- câmbio de informações e contribuem para o trabalho de convencimento. Também promovemos capacitações, por meio de webinars e seminários presenciais. Desenvolvemos ainda estudos, atuando diretamente na sede do Pacto Global, em Nova York, para a produção de conhecimento. Hoje temos plataformas sobre clima e ener- gia, água, agricultura e alimentos, an- ticorrupção, direitos humanos; enfim, conteúdos para todas essas temáticas. Revista da ESPM — O Brasil vem sen- do sacudido por escândalos em série que envolvem o poder público e a iniciativa privada. Espera-se que no futuro prevale- çam práticas mais éticas e compromissos mais sérios com a comunidade. De que forma o Pacto Global pode contribuir para a prevalência da ética, da transpa- rência e da cidadania no país? Beatriz — Trabalhamos com o princí- pio 10, de combate à corrupção em to- das as suas formas, incluindo a extor- são e a propina. E tambémna vertente dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, iniciativa sancionada pela ONU, cujo item 16 trata especifi- camente sobre esse tema [Paz, Justiça e Instituições Eficazes]. Nosso com- promisso é sensibilizar as empresas a respeito dessa temática. Atuamos entre as corporações na capacitação, tanto na análise do risco de corrupção dentro da organização quanto na im- plementação de ferramentas e proces- sos que reduzam esses riscos. Ou seja, ter procedimentos que são direciona- dos por toda a gerência e conhecidos por toda a empresa. Isso não deve ser feito somente nas grandes empresas, mas também nas pequenas e médias. Nós oferecemos um treinamento vol- tado especificamente para pequenas e médias empresas. Esses procedimen- tos são simples e partem do princípio de que é preciso observar critérios claros. Se for preciso fazer uma com- pra, deve ser observado certo procedi- mento, como, por exemplo, a certifi- cação: não ter somente um indivíduo responsável por aquela ação. Também é importante que sejam envolvidos os demais funcionários e colaboradores, porque no fundo isso é um desafio in- dividual. Todo indivíduo é responsável pelo combate à corrupção. Revista da ESPM — O compliance não é caro para pequenas empresas? Beatriz — Na verdade, não. Ao contrá- rio. Quando se criam modelos claros, evita-se o retrabalho e é alcançado um melhor resultado, até porque o desper- dício é reduzido. Revista da ESPM —AAndradeGutier- rez publicou um pedido formal de descul- pas à nação, mencionando a criação de uma área de compliance. Isso pode ser encarado como uma tendência? Quando você cria modelos claros, evita o retrabalho e torna-se mais eficiente porque também reduz o desperdício. Isso pode melhorar o desempenho da empresa

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