RESPM-SET_OUT-2015-baixa

ponto de vista Revista da ESPM | setembro/outubrode 2015 142 Ozires Silva As cadeias globaisdevalor M uito se fala sobre os reais impactos para a sociedade e a consequência da universa- lizaçãodas comunicações, conseguidado pontodevista técnicocoma corridaespa- cial, duranteaGuerraFria. Investimentospesados realiza- dospelosEstadosUnidos epelaRússianoperíodo tiveram muitomais impacto sobre a sociedadedoquepoderíamos imaginar. Não sepode calcular oquantovalemhojeos sis- temas de comunicações que transformaramomundo em umlugarmenor emais eficiente. Tudoissofezcomqueocomércioeaindústriainternacio- naismudassemaformadeoperar,negociar,comprareven- der. Infelizmente, o Brasil não foi umgrande participante dessas mudanças. O país não acompanhou tudo isso, do ponto de vista da inovação, mas foi muito afetado emsuas áreasprodutivasdemanufaturados.Assimcomoasempre- sas no exterior, nós sofremos as influências das operações doeparaomundo—desdeoprojetodosprodutosatéafabri- caçãodaspeças, suamontageme comercialização. Ofatoé quetalmovimentaçãocontribuiuparaaformaçãodecadeias internacionais de produção, que alteraramo processo pro- dutivoeosmodelosdasoperaçõescomerciaisnomundo. Foi nessa épocaquenos lançamos à fabricaçãode aviões nacionais,partindodeiniciativasquegarantiramaproprie- dadeintelectualdenossosprodutosaeronáuticos,hojeessen- cialparaosucessoqueconseguimos,exportandoparatodos os países, semas limitações que crescentemente os países licenciadorescolocamaseuslicenciados.Claro,diriaomais simplistadosanalistas: “Oslicenciadoresnãopermitemque oslicenciadosconcorramcontraeles”. Aadoçãodessapolítica levou-nos a umconceito que é o ponto central deste artigo: anecessidadedeaproximaçãodo fabricantefinal comseus fornecedores, transformando-osmais emparceiros doque opositores. Aqui, não precisamos falar sobre o conceito de “montador” versus o antigopostode “fabricante”. Sim, é ver- dade que hoje, olhando todos os produtos que utilizamos, comoostelefonescelulares,constatamosqueelessãomais aparelhosque “tambémsecomunicam”,poisosaplicativos querecebemostransformamemalgoauxiliarparaotrabalho. Quando trabalhávamos sobre as estratégias de produ- ção e de vendas dos futuros aviões que seriam fabricados, fomos compreendendo, muito mais rapidamente do que imaginávamos, que semparceirosprodutivos seriadifícil, senão impossível, chegararesultadoscompetitivosemter- mos de preço, qualidade e inovação. Não foi difícil levar a Embraer, nos seus trôpegosprimeirospassos, acompreen- der a importânciadoconceitodas cadeias globais de valor (CGV),edequeaproduçãonacionaldeveriabuscarpraticá-lo. Odifícilnaquelaépocaeraqueogovernobrasileiro,como semprenasua tendênciade tudocontrolar, estabeleciares- triçõesàs importaçõeseos famosose ineficazes índicesde nacionalização,nãolevandoemcontaqueasCGVssãomun- diais, podendo ser nacionais ou internacionais. Os indus- triais ainda se lembram dos malsucedidos programas de desenvolvimento, baseados em teses cultivadas no poder central da República, estabelecendo regras de mercado, cujos resultadossãopagosatéhojepelaproduçãonacional. AsCGVs trouxerammudanças importantesnosistema multilateral de comércio, principalmente em relação ao papel daOrganizaçãoMundial doComércio (OMC). Porém a abordagemcomercial necessária diante do surgimento das CGVs excede a agenda tradicional de comércio. Mais do que estar “dentro das fronteiras”, a nova forma de pen- samentodeve abarcarmedidas regulatórias que “atraves- sam fronteiras”, ou seja, todos os aspectos que afetam a cadeiadesuprimentosemcadaumdospontosdeoperação. OfuncionamentodasCGVsdesafiamuitasdasregrasda OMC, que insiste emtratar dos problemas isoladamente, e não dentro de umsistema integrado. Apartir de tal con- texto, deve-se indagar se os países realmente precisam das disciplinas daOMCpara avançar comasCGVs e qual seria o lugar das cadeias de valor no escopo das normas comerciais, se grande parte da agenda segue uma lógica nacional. De todo modo, a avaliação deve concentrar-se naquilo que as cadeias de valor podem fazer pela OMC e pelas políticas nacionais, e não no que esta organização pode fazer pelas cadeias de valor. Ozires Silva Presidente do conselho de administração do Grupo Anima de Educação e Cultura e reitor da Unimonte divulgaç Ã o

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