RESPM_MAR_ABR_2015 ALTA

março/abril de2015| RevistadaESPM 53 Alexandre — Quando o senhor fala em pedir conselhos, se refere, por exemplo, a consultores? Kahneman — Consultores ou ami- gos, gente que não está envolvida diretamente nas decisões e que olha para elas objetivamente e pode aju- dar você a pensar. Isso geralmente funciona bem quando as pessoas sentem que estão correndo o risco de tomar decisões ruins. É para isso que servem os amigos. Para tentar conseguir bons conselhos. Para ten- tar pensar junto com outra pessoa sobre os seus problemas. Alexandre — Quão importante o senhor acredita que a situação econô- mica de um país possa ser quando se discute esse tipo de viés e de problema no processo de tomada de decisões? Estar vivendo um momento de crise e incerteza é relevante para essa dis- cussão? Kahneman — Em geral, a incerteza piora tudo. Torna todas as decisões piores. Exacerba a aversão a perdas e faz com que seja mais difícil para as pessoas calcularem as probabili- dades e os riscos que estão corren- do. Não posso falar especificamente sobre crises em países, porque eco- nomia não é o meu campo, mas, em geral, a incerteza piora as coisas. Alexandre — Aprendemos em suas pesquisas que a ilusão de que compre- endermos o passado encoraja o exces- so de confiança em nossa capacidade de prever e controlar o futuro. Qual é o impacto desse tipo de comportamento no processo de tomada de decisões durante uma crise? Kahneman — Não vejo isso relacio- nado especificamente a períodos de crise. Em geral, as pessoas têm a ilusão de que compreendem o que está acontecendo no presente melhor do que são capazes de fato. Eu sustento que a nossa habilidade de entender as situações depois que elas acontecem — ou de acreditar que as compreendemos — contribui para a ilusão de que podemos pre- ver o futuro. Mas não existe nada que eu conheça sugerindo que esse fenômeno interaja especificamente com a incerteza ou com períodos de crise. Alexandre — O Brasil tem um histó- rico muito longo de crises financeiras, mas, como o senhor tem dito há dé- cadas, as empresas não mantêm um arquivo das decisões que vão tomando e, assim, não têm como aprender com seus erros. O que há por trás dessa fal- ta de memória e o que poderia ser feito para corrigi-la? Kahneman — Eu me refiro mais a empresas que tomam muitas deci- sões. Por exemplo, decisões de in- vestimento, nas quais há múltiplas escolhas a fazer. Em geral, é verdade que as empresas não mantêm re- gistros das suas deliberações. Não mantêm registros especialmen- te das opções que consideraram e rejeitaram ao fazer escolhas, o que torna mais difícil avaliar quão bem as decisões foram tomadas no passado. É, de fato, uma questão de documentar as decisões de um modo que torne fácil entender, de- Nomundo das finanças, quando os investidores estão perdendomuito dinheiro, eles começama agir segundo regras, tornam-semais conservadores e aceitam mais conselhos, emvez de seguir seus instintos shutterstock

RkJQdWJsaXNoZXIy NDQ1MTcx