RESPM-MAI_JUN-2015-alta

História Revista da ESPM |maio/junhode 2015 98 reservando aos anteriores umúnico destino: o descarte. As práticas de consumo atuais se moldam como repeti- das realizações de desejos, que semostraminsuficientes para entregar a esperada felicidade, tambémprometida pelos consumidores a si mesmos. Como é comum aos atos de realização de desejos, há uma prazerosa satisfa- ção, porém instantânea e potencial disparadora de uma próxima etapa, a realização seguinte. Mal-estar na adolescência Atualmente, ser feliz tornou-se ideal opressivo, como apontaMaria Rita Kehl em O tempo e o cão: a atualidade da depressão (Editora Boitempo, 2009). Émandatório ser feliz. Éanós outorgada a felicidade a qualquer preço. Dis- cursos publicitários e jornalísticos ratificam tal lógica, idealizando grupos de indivíduos que, supostamente, poderíamos assumir como mais felizes que outros. É o caso dos jovens. Como se a felicidade fosse um senti- mento de grupo e possível de ser mensurada e compa- rada. Sabemos que períodos da vida, como é o caso da adolescência, por exemplo, são dotados de rituais, incer- tezas e anseios capazes de trazer profundas angústias a qualquer um. Enos tempos atuais não é diferente. Há um iminentemal-estar entreadolescentesdehojequevemos relacionado à obrigatoriedade da felicidade pormeio do consumo e do atingimento de “sucesso” em suas vidas, como descrevo emminha tese de doutorado emcomuni- cação e semiótica, intitulada Mal-estar na adolescência: jovens de agendas lotadas nas redes sociais (PUC, 2012). As agendas dos adolescentes de hoje estão lotadas. Principalmente no caso dos jovens de classe média. Ati- vidades comoaulasde idioma, práticas artísticas, treinos esportivos, entre outras, lotam suas agendas ao lado de um intenso cotidiano de consumo. Usam e abusam das tecnologias da informação e da comunicação (TICs) em seu dia a dia de consumo. Aparatos eletrônicos apresen- tam-se comoextensõesnaturais de seus próprios corpos. Dispositivosmóveis parecemestar acoplados aos corpos dos adolescentes, incluindo um ininterrupto e ubíquo Espaços antes tidos apenas como símbolo da liberdade de expressão, as redes sociais hoje vivem, também, sobumregime de intensa vigilância por parte de seus usuários, sobre seus pares latinstock

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